A taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho ficou em 12,3%, mostrou semana passada o IBGE. É 0,6 ponto percentual abaixo do trimestre imediatamente anterior, mas o cenário segue preocupante, diz o pesquisador Bruno Ottoni, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Idados. Com o PIB estagnado, a tendência é de que a taxa de desocupação permaneça alta no próximo ano, avisa o especialista em mercado de trabalho, que aponta a eleição como a maior fonte atual de incerteza.
O IBGE mostrou que a taxa de desemprego caiu. Há algo a comemorar?
A minha visão sobre estes números não é muito otimista. Vejo de forma mais pessimista. De fato, a taxa de desemprego vem caindo, mas é o esperado por questões sazonais. Em geral, o desemprego sobe nos primeiros meses do ano e, a partir de abril, cai. Excluindo anos de crise, o comportamento do mercado se dá dessa forma. A questão é que essa queda está se dando em linha com o esperado por questões sazonais. O problema é que isso indica que, mantida essa velocidade de recuperação, lenta, vamos permanecer com níveis elevados de desemprego por bastante tempo. Para observarmos queda mais forte, a economia precisaria começar a crescer mais.
Devido à incerteza das eleições no Brasil e as turbulências externas, esse cenário se mantém até quando?
Nossas projeções, no IBRE, são de que o desemprego continuará elevado em 2019. O crescimento da economia não deve ser forte no próximo ano. Essa projeção é cercada de muita incerteza. Temos as eleições no meio e o número pode mudar bastante dependendo do presidente eleito e das políticas implementadas. Essa estimativa conta com cenário levemente otimista, com a vitória de um candidato que leve adiante as reformas.
E quais seriam as taxas para o final deste ano e do próximo?
Para 2018, projetamos uma média de 12% e, para o próximo ano, de 11,7%.
O emprego não reage porque a economia está fraca e a economia não reage pelo emprego fraco? Como quebrar isso?
Sim, essas duas coisas se realimentam. Uma parte importante do PIB é o consumo das famílias, que vem da renda. O fato de o mercado de trabalho ter desempenho ruim contribui para que a atividade não cresça tanto porque essa variável é importante. Como quebrar isso? O PIB não é composto apenas por este elemento. É preciso criar um cenário de confiança no empresariado para que volte a investir. Isso poderia puxar o PIB, por meio de maior investimento. Outros fatores podem contribuir, como a melhora do ambiente de negócios. Mas o mais importante é a agenda de reformas para sair desse cenário de economia com baixo investimento e consumo não se recuperando de forma mais forte, com o aumento do nível de contratação.
O elemento-chave é a eleição?
Hoje, sim. Já tivemos eleições com cenário mais claro a esta altura, mas neste ano está bastante difícil fazer projeções. Temos candidatos que vão de "a" a "z" em termos de propostas. E isso acaba dificultando a retomada.