Mauricio Harger, catarinense de Joinville, formado em engenharia mecatrônica pela PUC de Minas Gerais, com MBA pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), assumiu em junho a presidência da Celulose Riograndense, do grupo chileno CMPC. Veio do comando da Mexichem Brasil, da marca de tubos e conexões Amanco. Seu antecessor, Walter Lídio Nunes, foi para o conselho de administração. Harger ainda está descobrindo o mundo da celulose, mas o que viu até agora ajuda a reforçar a expectativa de que a CMPC possa reforçar seus investimentos no Estado, que o comando da empresa já condicionou à posse da propriedade de terra no Brasil.
O que vai marcar essa mudança na Celulose Riograndense?
Gosto de aprender. Tenho 43 anos, ainda tenho muito terreno para caminhar. O grupo CMPC fez essa aquisição há cerca de 10 anos e tem tido desafios em integrar de maneira completa a operação brasileira à chilena. Um dos objetivos é trazer essa sinergia entre as duas culturas. Usar melhor um pouco de cada cultura para potencializar o negócio. Em curto prazo, trabalhamos para implementar um sistema japonês, o Lean, com foco em excelência operacional. Precisamos ter a indústria rodando no máximo de sua performance e baixando o custo. A economia mundial está em momento positivo, com crescimento combinado à alta na demanda por celulose.
Como encara essa mudança de segmento?
Tem uma ansiedade grande, porque a quantidade de informação nova é enorme, não tem como absorver tudo de uma vez. Mas acaba sendo muito positivo, porque se veem oportunidades não estando mergulhado no setor. Toma referências mais amplas, faz perguntas diferentes do que pessoas do segmento. Isso cria mais oportunidades do que dificuldades. Está sendo bastante motivador, estou entusiasmado.
Como está a produção na fábrica de Guaíba?
Este é um ano muito positivo para CMPC no Brasil. A unidade foi um dos maiores investimentos privados da história do Rio Grande do Sul, o maior investimento nos 98 anos da CMPC em um país estrangeiro. Havia grande expectativa do acionista em relação ao retorno. Tivemos algumas dificuldades, mas a planta vem operando bem desde novembro de 2017, o que nos possibilita estimar que 2018 será um ótimo ano para a produção. Temos câmbio favorável à exportação, e economia mundial crescendo. A celulose avança um pouco mais em relação à economia mundial. Estamos muito otimistas, com uma entrega que o acionista tinha a expectativa de ver há alguns anos.
O que está elevando o preço da celulose?
A China vem mudando sua legislação ambiental, sendo mais restritiva. Fábricas antigas pararam, porque o custo de reformar para alcançar o padrão mínimo de exigência ambiental é muito alto. Unidades produtivas de várias commodities estão sendo desligadas. Como a oferta chinesa diminui, o preço sobe. A China ainda tem restringido a entrada de materiais reciclados, como papel, e comprado mais celulose, matéria-prima do papel. E ainda tem a demanda de países em desenvolvimento, que aumenta o consumo de produtos do dia a dia, como descartáveis, também compostos por celulose.
Essa ideia de integrar mais a produção inclui a produção de papel na Melhoramentos?
A CMPC trabalha com visão bem integrada nos três negócios em que atua. No Brasil, tem dois CNPJs (o da Celulose Riograndense e o da Melhoramentos), mas não impede a busca de integração. Também chegou um colega novo na Melhoramentos, junto comigo, e temos a oportunidade de discutir, no que for possível, as companhias se ajudarem e criarem musculatura no país para aumentar a produtividade e sinergia. A unidade principal da Melhoramentos, que faz papel, está em São Paulo. Temos outra unidade em Guaíba, mas a pequena proporção de celulose usada no Brasil vai para lá, não direto para a planta local.
Ainda há expectativa de novo investimento no Estado, condicionado pela CMPC à liberação da propriedade da terra?
Não podemos dar informações sobre essa possibilidade sem informar os acionistas. Então, não posso falar sobre o projeto. Mas posso falar de minha percepção do mercado, da situação do país e da situação do segmento em específico, o que mostra um pouco do meu entusiasmo e do meu otimismo em relação ao futuro. Penso que o Brasil tem posição importante de protagonismo em celulose no mundo. O mundo está demandando celulose, e o Brasil é protagonista do ponto de vista de oportunidade de custo, com atuação muito competitiva, talvez a mais competitiva. O Rio Grande do Sul não deixa de ser um ótimo lugar para se ter essa posição competitiva. A CMPC vem crescendo e avaliará investimentos no futuro. Aí se tem um trabalho em vária mãos, que torna atrativo esse investimento sob o ponto de vista do Rio Grande do Sul e da empresa chilena. De fato, hoje o estrangeiro tem restrições sobre a matéria-prima. Sou otimista sobre Brasil e celulose.
Como estão as negociações com a seguradora sobre a explosão da caldeira, em 2017?
O estado permanece inalterado pelas informações que tenho (a informação mais recente era de que a seguradora resistia a bancar as perdas, estimadas em US$ 200 milhões).
Há expectativa de aumento da produção?
Temos mais do que expectativa, temos uma meta, que vai até 2020. Mas ainda não tem nada concreto. Talvez, pelo ponto de vista de volume, não seja expressiva, mas ao analisar marginalmente o resultado, qualquer tonelada adicional, tem poucos componentes de custo. Então, sob o ponto de vista da última linha (lucro), é importante e relevante.
Ficou surpreso com a história da empresa, que já foi Borregaard, Riocell e Aracruz?
Um aprendizado importante foi o que tornou a CMPC uma das empresas que mais sabe aproveitar e reciclar qualquer resíduo gerado no processo. Deve ser a companhia número 1 do mundo em reaproveitamento, com índice superior a 99%. Então, trouxe a cultura de sustentabilidade. O interessante é que acabou nas mãos de um acionista que tem interesse genuíno, que fez um investimento relevante no país, o seu primeiro fora do Chile. Já veio com grande porte, acreditou nos gaúchos e nos brasileiros e está disposto a investir no país.