Não foi pelo resultado, bem diferente da média nacional. O PIB do Rio Grande do Sul caiu 0,8% no primeiro trimestre de 2018 ante igual período de 2017 (na média brasileira, houve alta de 1,2% na mesma base de comparação), mas a tensão na sala de reuniões da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) não decorreu do desalinhamento no comportamento da economia, nem do atraso na divulgação dos dados. Ao anúncio, também compareceu uma dúzia de ex-servidores da Fundação de Economia de Estatística (FEE), em processo de extinção.
Os técnicos compareceram sem convite para acompanhar os dados. A secretaria decidiu deixá-los entrar, sob a condição de apenas assistir à apresentação, sem fazer perguntas. Durante a exposição do coordenador dos cálculos do PIB para o RS, Eduardo Zylberstajn, em alguns momentos foi possível ouvir risos irônicos entre os participantes "tolerados". O que está por trás da tensão é uma queda de braço entre o governo gaúcho e parte da comunidade estatística, por assim dizer.
Como o Piratini decidiu exinguir a FEE e terceirizar o cálculo do PIB, contratando a Fipe, o IBGE, depois de ameaçar, rompeu de fato o convênio que permitia compartilhar dados considerados sigilosos que entram nos cálculos das contas nacionais trimestrais – origem também dos PIBs estaduais. Por isso, os dados apresentados nesta quinta-feira (21) não são comparáveis com os calculados anteriormente pela FEE.
A Fipe contornou o problema calculando uma série histórica para o novo padrão de dados. Zylberstajn, coordenador do projeto, afirmou que foram usados apenas dados públicos. Isso significa que a metodologia não é a mesma usada pelo IBGE para o PIB nacional. Ao ser perguntado sobre o desvio em relação ao formato anterior, o técnico admitiu que há diferenças, mas afirmou que não serão significativas.
– A Fipe faz o cálculo de inflação mais antigo do Brasil e publica os preços de referência para carros usados. Tem vários contratos com instituições públicas. Se o projeto pioneiro do governo gaúcho comprometesse nossa credibilidade, não colocaríamos nosso nome nisso – afirmou Zylberstajn.