Mesmo em dia de alta discreta (0,96%) em Nova York, a bolsa brasileira fechou em baixa nesta quarta-feira (4), antes do voto considerado decisivo na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na mira do mercado, não estava apenas a deliberação sobre Lula, pondera o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Há alguns dias, abriram-se as portas de saída de investidores externos, diz:
– A incerteza cresceu muito com a investigação de amigos do presidente da República e com o envolvimento das Forças Armadas. Durante o dia, houve tentativas de amenizar as declarações do general, mas é outra instituição que se envolve no debate já pesado, complexo.
A baixa em descompasso com o cenário externo, apesar das oscilações ao longo do dia, foi atribuída à tentativa dos investidores de se antecipar à decisão do STF. Como a previsão inicial era de resultado a favor de Lula, a bolsa fechou com recuo de 0,31%.
Conforme Alexandre Wolwacz, diretor da L&S Educação e sócio-fundador do Grupo L&S, investidores percebem a insegurança jurídica embutida nessa fase. Na cabeça do investidor estrangeiro, volta a velha imagem do país em que não apenas o futuro é difícil de prever, mas até o passado é incerto. A mudança em uma decisão tomada tão recentemente acentuaria essa impressão.
– O mercado pode reagir bem a uma eventual negativa do habeas corpus no curto prazo, mas no médio e longo, o cenário ficou mais complexo. O movimento das Forças Armadas agregou um fator novo a uma situação já difícil – avalia Perfeito.
A eventual prisão de Lula tornaria o quadro mais previsível, uma vez que o petista radicalizou seu discurso e combatido as reformas que o mercado deseja para o Brasil. Mas o capital político desse personagem preso não pode ser ignorado, pondera Perfeito. O suspense foi desfeito com o voto da ministra Rosa Weber, contrário ao hábeas. Mas a incerteza, sobre futuro e passado, segue.