Embora não tenha sido uma grande surpresa – havia sinais claros da dificuldade de obter os votos necessários –, a confirmação de que não haverá sequer encaminhamento da aprovação da reforma da Previdência em 2017 desatou um previsível azedamento de humor. O reflexo ultrapassou a reação do mercado financeiro, com recuo de 0,67% na bolsa e alta de 0,62% no dólar, e chegou à imagem do Brasil no Exterior com a advertência da Moody’s de que a nota de crédito do país pode cair.
O raciocínio da agência de classificação de risco é simples: sem reforma, o peso da dívida do Brasil em relação a seu Produto Interno Bruto (PIB) cresce. Para manter a atual estrutura de custos públicos sem reforma ou ajuste, a principal alternativa seria a emissão de papéis do governo para financiar o crescimento dos gastos. Existem projeções apontando que entre 2024 e 2025 a dívida alcançaria valor igual ao do PIB.
Alguns países – Estados Unidos e Japão são os mais conhecidos – têm dívida maior que o PIB e nota equivalente ao menor risco do mercado. Mas um é dono da máquina de imprimir a moeda que referencia as transações globais e outro tem uma das maiores proporções de poupança interna do planeta. E jamais entraram em moratória. O rebaixamento da nota, se houver, é reflexo do temor de que, a prazo nem tão longo, possamos falir outra vez.
A responsabilidade não é dos opositores da reforma. É do próprio governo, que se enredou na defesa do mandato de Michel Temer depois da delação da JBS e não conseguiu mobilizar sua própria base de apoio, mesmo com favores, nomeações e outras moedas de troca. Falharam ainda muitos defensores da mudança, por avaliar que a necessidade se imporia sem maiores esforços. Depois disso, aprovar mudanças em ano eleitoral será tarefa equivalente a um milagre.