Nem a sexta redução seguida na taxa de desemprego calculada pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) traz alento significativo para quem busca vaga com carteira assinada. A redução na estatística negativa se dá, conforme o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo, pelas vagas informais e pela "autogeração" de renda, ou seja, o trabalho por conta própria. Há bolsões de oxigênio em alguns setores, mas, no volume, a realidade do mercado não autoriza projeções otimistas.
Entre abril e setembro, o levantamento do IBGE mostra redução superior a um ponto percentual na taxa de desocupação, o que equivale a quase 1 milhão de brasileiros a mais dispondo de algum tipo de renda. A maioria, conforme o técnico do IBGE, é sem carteira assinada, portanto sem garantia de futuro, ou dependente do sucesso de iniciativas pessoais.
É significativo que esse comportamento mantenha as mesmas características ao longo dos últimos seis meses. A reforma trabalhista aprovada em julho entra em vigor dentro de menos de 15 dias. Diante das incertezas geradas pela interpretação das novas regras, é natural que as contratações de prazo mais longo esperem pela plena vigência da mudança.
Existe debate até sobre a adoção de um período de transição entre a velha e a nova CLT. Se não for regulado, pode ser construído entre empresas e sindicatos de trabalhadores, inquietos com o fim da exigência de que as rescisões de contratos passem pela vigilância da estrutura de representação dos empregados. Começam a aparecer sinais de que essa hipótese não está totalmente fora de cenário.
A questão é como os empregadores vão reagir depois da entrada em vigor de normas mais flexíveis. Especialistas diagnosticam que parte das vagas perdidas durante a crise não será recriada. Foram fechadas em definitivo ou resultado de programas de produtividade que prescidem do mesmo esforço na lenta recuperação a que o Brasil está destinado.
Na Justiça do Trabalho, discute-se se as novas regras serão acatadas ou não. Posições moderadas indicam que os magistrados querem interpretar o texto, não necessariamente de forma literal. Há empregadores insatisfeitos por que a reforma não inclui, por exemplo, a possibilidade de redução de salários. Nos sindicatos, há temor em relação à própria sobrevivência. Especialistas advertem que, de cada 10 empregos do futuro, sete ainda não existem. É preciso pensar no amanhã com a mente aberta.