A discussão sobre o custo público de parte da chamada "bolsa empresário" pegou fogo e chamuscou as relações na equipe econômica. Ainda na gestão de Maria Silvia Bastos Marques no BNDES, a instituição propôs o fim da TJLP, a taxa de juro para financiamento público de longo prazo que embute pesados subsídios - espeta a conta nos contribuintes. Seria uma fatura estimada em R$ 27 bilhões ao ano, quase o mesmo valor do Bolsa Família, daí o apelido.
Dois diretores se desligaram do BNDES por "motivos pessoais". Pouco depois, a razão real ficou clara: reagiram a sinais de que o atual presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, estava disposto a rever a medida calibrada com o time da economia. O que provocou a saída foi uma entrevista em que Rabello considerava prejudicial às empresas a Medida Provisória 777, que substituiria a TJLP por nova taxa, sem subsídio, em cinco anos. O atual presidente do BNDES sempre se disse liberal com o liberalismo, o que aumentou a surpresa.
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Detalhe: a indicação de Rabello se deve a sua amizade com o presidente Michel Temer. Quando a situação parecia descambar, o presidente do BNDES recuou, afirmando estar "totalmente vinculado" à MP 777. Anunciou, ainda, que na terça-feira deve "receber instruções" sobre o assunto do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, ao qual é subordinado. Mas uma alteração ganhou forma: a fase de transição entre a TJLP e a TLP passaria de cinco para 10 anos. Nesse caso, a economia gerada para os cofres públicos encolheria de R$ 74 bilhões para R$ 54 bilhões.
Além do custo direto para os contribuintes, a TJLP é vista pelo BC como fonte de distorção por diminuir o efeito da calibragem na taxa que vale para os não contemplados com os subsídios, a da Selic. O problema é que a referência para o custo do dinheiro no Brasil é tão absurda, mesmo depois de várias tesouradas, que torna inviáveis investimentos financiados a valor de mercado. O outro lado da disputa é o tamanho dessa conta quando há dificuldade de cumprir o compromisso de limitar o rombo no orçamento federal. O risco de ter de recorrer a aumento de arrecadação, alimentado por mais cobrança de impostos, não está descartado.