Quem disse foi Moreira Franco, um dos principais auxiliares do agora presidente sem adendos Michel Temer: é a saída da crise que poderá legitimar o interino transformado em substituto. Se foi a recessão que determinou o impeachment de Dilma Rousseff, a retomada pode consolidar o sucessor que chega com popularidade tão baixa quanto a da antecessora.
A pós-interinidade já nasceu sob estresse político, com parte do PMDB e todo o PSDB desconfortáveis com a manutenção dos direitos políticos de Dilma Rousseff. É mau sinal para um governo que precisa de apoio da nova base aliada para aprovar reformas polêmicas. Antes de embarcar para a China, para uma reunião do G-20 (grupo formado pelas maiores economias do planeta) na qual busca reconhecimento internacional, Temer deu sinais de que sabe de sua sina. Disse que quer marcar seu mandato de 28 meses pelo combate ao desemprego, e os instrumentos que vai usar são ajuste fiscal e as reformas, da previdência à trabalhista. E fez questão de justificar a viagens, argumentando que iria “buscar recursos para cá”.
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Avisou que fará uma campanha de esclarecimento sobre a necessidade das reformas, sem a qual não conseguirá convencer os parlamentares a votar a favor. Se terá dificuldades entre os aliados, enfrentará oposição feroz, como ficou claro no discurso de despedida de Dilma. Nesse ponto, a agenda de reformas à frente será pedregosa: embora defendidas por empresários e boa parte dos economistas, enfrentará sólida resistência de sindicalistas. O conteúdo das mudanças suscita temores, o que recomenda transparência e simplicidade para evitar que o medo construa muralhas.
Com a posse celebrada por entidades empresariais, Temer terá de vencer o ceticismo de analistas como o ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo Freitas, que integrou a gestão de Armínio Fraga na instituição:
– Ele botou o velho Maquiavel de ponta-cabeça. Fez bondades de uma vez e deixou as maldades para fazer a conta-gotas.
Se conseguir pavimentar o caminho da recuperação, poderá se legitimar. Mas terá de rever Maquiavel e enfrentar aumento de impopularidade antes de colher os frutos.