Em sete meses, a Marcopolo mudou seu comando: trocou CEO em agosto e, nesta quinta-feira, anunciou que Mauro Bellini, filho de um dos maiores acionistas, deixará a presidência do conselho para Paulo Cezar Nunes.
O novo presidente é formado em administração de empresas pela Unisinos e, desde março de 2012, atua no conselho de administração da Marcopolo como membro independente, além de participar do Comitê de Recursos Humanos e Ética.
Com experiência de mais de 40 anos na indústria automobilística, Nunes exerceu cargos de liderança em empresas como Massey-Ferguson, Racine Hidráulica, Albarus SA e Dana Indústrias Ltda., da qual foi vice-presidente. Também foi, até 2012, membro do conselho do Sindipeças. Também fez curso para conselheiro de administração ministrado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
Confira a visão do novo estrategista de uma das maiores empresas do RS.
O plano de sucessão andou com a velocidade prevista ou foi acelerado?
Eu estou na empresa como conselheiro desde 2012. Esse processo de tornar conselho cada vez mais composto por independentes, vem acontecendo ao longo dos últimos 5 anos. A Marcopolo vem trazendo pessoas externas à família, ao conselho. Neste ano, que é muito importante, nos próprios processos de reestruturação de empresa, no tamanho que está, importância do centro em que opera, houve a decisão dos controladores de tornar o conselho bem independente do grupo de controle. Um conselho constituído de não acionistas, com diversificados conhecimentos para os próximos passos do planejamento estratégico. Foi uma ato planejado.
É uma trajetória muito comum que um membro independente se torne presidente do conselho ou está passando a ser?
Tem sido tendência bem usual. Dentro de bases de governança, é muito muito recomendável, principalmente nas cias de capital aberto. Traduz o olhar do controlador de preservar melhores princípios governança na administração. É um caminhar natural nos processos de gestão desse porte.
O que significa essa reestruturação?
A empresa vem há bastante tempo se voltando para o Exterior. De forma bem sólida. Buscando novos mercados e expandindo em relação a fronteiras da região da América do Sul. É um processo contínuo. Cada vez mais se busca novos mercados e novas tecnologias. O produto da Marcopolo vem se internacionalizando. A empresa fica mais completa, com mais joint ventures, mais empresas próprias no Exterior. É nesse sentido que eu falo em reestruturação, no sentido da abrangência da empresa no mercado local e internacional.
A Marcopolo avalia medidas mais duras para combater a crise, como fechamento de unidades?
Não temos, a curto prazo, no nosso olhar dos próximos meses, falado de fechamento de fábrica. A gente fez ajustes importantes, duros, que o momento exigiu.
Foram ajustes de pessoal?
Sim, de pessoal. Tivemos que adaptar as operações para poder mantê-las, a exemplo das outras empresas do setor. Também vem acontecendo no setor automotivo, que foi muito sensível a essa queda da demanda. Sabemos que essa situação de mercado que estamos passando vai ter um momento em que irá acabar. Empresas que, durante esse período, fortalecerem-se em processos e organização tendem a voltar ao mercado de forma bem mais sólida, recuperando suas posições perdidas.
Qual foi o tamanho do enxugamento no quadro?
No Brasil, foi em torno de 2,5 mil pessoas, podendo chegar a 2,8 mil do total. Isso é em torno de 20%. É um ajusto muito doloroso. Mas a empresa não tem como sustentar por muito tempo um excedente deste tamanho. Estamos mantendo um grupo importante de colaboradores e praticando treinamentos. Mantendo a estrutura para a volta do crescimento.
Vocês enxergam quando isso deve ocorrer?
Honestamente, não sabemos. Mas temos de exercitar essa previsão. A grande dificuldade de qualquer empresa no Brasil, hoje, é conseguir calcular ou estimar quando vai ter um processo de retomada, nem que seja lento e gradual. O grande desafio é medir para poder se antecipar. Para ser bem sucedido, tem de se antecipar. Nesse momento, sendo totalmente transparente, não conseguimos enxergar.
Quando caiu o mercado da Marcopolo no Brasil?
Foi uma queda física de 50%. Quando se coloca o incremento de exportação e com produtos que estamos desenvolvendo para outras aplicações, reduz o número para 30%. Já vi vários momentos de queda, de ajuste. Tivemos períodos de quedas absurdas, retomadas em velocidades fantásticas. Mas essa está duradoura e sem uma boa perspectiva de quando a roda volta a girar. A grande preocupação são com as nossas cadeias de fornecimento. Mas acho importante dizer que nós brasileiros temos uma qualidade imbatível, que é a nossa capacidade de reação. Se houver condições de melhoria, garanto que a nossa retomada é rápida.
O mercado externo tem respondido?
Ao longo dos anos, a Marcopolo sempre foi empresa muito cuidadosa com seu mercado externo. Sempre operou mesmo em momentos de maior dificuldade, de câmbio não satisfatório. Sempre tratamos nossos clientes de uma forma muito cuidadosa. A empresa opera em vários mercados, e muitos estão indo muito bem. A exportação tem sido muito importante, e estamos crescendo em alguns mercados, que estão atualizando frotas. Estamos abrindo novos mercados, também. É uma resposta muito boa. A partir do segundo semestre teremos um volume de exportação continuado e crescente. Não se trata de um trabalho específico de emergência, ele vem sendo construído há algum tempo. Foi um resultado muito bom. É importante a manutenção do mercado internacional. É muito difícil retornar depois de sair. Para este ano, trabalhamos com crescimento de 30% das exportações em relação a 2015.
Quais os mercados que estão reagindo melhor?
A América do Sul está indo muito bem. Há uma retomada interessante na Argentina (empresa tem unidade fabril no país), com uma regularidade melhor. O mercado do México está muito interessante. A Índia também está com melhores perspectivas. Passou um período complicado, mas agora está melhorando.
A empresa trocou o CEO em novembro e agora troca a presidência do conselho. Qual a mensagem para o mercado?
Não temos mensagem objetivada nesse sentido. É uma empresa que passou por várias mudanças. Elas sempre foram muito positivas nos sentidos de crescimento. Essas mudanças servem para preparar a companhia para novos estágios. É um ciclo natural das empresas. A companhia vai assumindo novas ideias, mas na essência, na organização, estamos todos juntos e com objetivos em comum. Temos caminhos bem desenhados.