Convidado para o lançamento do Prêmio Exportação da ADVB-RS, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, poderia ter se restringido a comentar aspectos do comércio exterior, uma das poucas áreas que ainda rendem algumas boas notícias para a economia brasileira. Ao falar a um público formado por empresários, no hotel Sheraton, preferiu encarar o problema de frente. Abriu seu discurso afirmando que ''as instituições do Brasil estão submetida a uma espécie de teste de estresse''. E projetou que deverão se sair bem do teste. Ao abordar o maior problema do governo federal além do impeachment, a situação fiscal, também não fez rodeios:
– Chegamos a uma situação limite.
Na origem do problema, apontou o déficit da Previdência, a indexação de benefícios e a vinculação do orçamento que provoca uma situação impossível: o PIB e a arrecadação caem, e as despesas aumentam.
– O quadro fiscal pode levar a uma situação em que o financiamento de áreas públicas essenciais fique em risco – advertiu.
O ministro surpreendeu até ao citar, para embasar sua avaliação da situação fiscal, estudos de dois economistas que têm sido muito críticos em relação ao governo: Samuel Pessôa e Mansueto Almeida. Tanto no vocabulário quanto no conteúdo, o ministro mostrou distanciamento em relação à atual gestão:
– Mais do que para o governo de plantão, tem uma questão colocada para a o sociedade. Chegamos ao fim de um longo ciclo e precisamos reconstruir um regime fiscal que seja minimamente sustentável ao longo do tempo.
Como solução, Monteiro defendeu a reforma da Previdência e a revisão da indexação de benefícios. Um dos casos é a vinculação do reajuste do salário mínimo a índices de inflação e de crescimento da economia. Monteiro não mencinou especificamente o salário mínimo, mas é um dos casos mais claros de vinculação. Ao responder a uma pergunta do presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, sobre como via a sustentação do comércio exterior no longo prazo, Monteiro arrancou risos nervosos da plateia:
– Longo prazo é sempre um problema, e no Brasil de hoje, longo prazo são três meses.
Ao detalhar a resposta, deu mais uma mostra do desapego em relação ao cargo e ao atual governo:
– Quem vier a definir um projeto para o Brasil (grifo da coluna) tem de entender que mercado externo não é algo que se entra e sai conforme a corrente.
Na saída, perguntado porque não havia mencionado a presidente Dilma em nenhum momento, Monteiro lembrou que é contrário ao impeachment e que fez a defesa de uma solução conciliadora. Indagado se estava deixando o cargo, repetiu uma frase proferida durante a palestra – ''não sou ministro, estou ministro'' – e afirmou que segue no cargo enquanto a presidente assim desejar.