Como você lida com a vertigem da história? Aquela sensação de sentir-se parte de um percurso incomensurável, de milhares de gerações que viveram antes da nossa. Olhar para aquele caminho onde povos inteiros, de humanos iguais a nós, desapareceram. Civilizações que duraram séculos, agora são apenas linhas em um livro. Milhões de vidas esquecidas, cujos sonhos e esperanças, nós no máximo podemos supor como foram.
Um dia acontecerá conosco, no futuro seremos vistos como estranhos seres, com estranhos hábitos, que se acreditavam grande coisa, e viraram pó como todos os outros. Perante a história somos uma janela que se abre por um tempo e se fecha para sempre.
Muitos deuses não tiveram melhor destino. Milhares deles perderam o rebanho. Ninguém mais os lembra e faz oferendas. Ninguém mais lhes pede saúde e paz. Seus templos e altares não comovem nenhuma alma. Os mistérios de seu culto e os labirintos de sua mitologia fazem um débil eco que trama nossas novas crenças.
Olhar para o passado, sentir-se um entre bilhões de outros que caminharam sobre o planeta, sem nada de especial, paradoxalmente, me produz um efeito calmante. O efeito é de uma destruição benigna do ego, me mostra como sou: uma pecinha irrelevante da trajetória de uma espécie confusa e problemática, ora genial e generosa, ora estúpida e brutal.
Esta vertigem no tempo da história humana me faz tão bem que a uso como antidepressivo. Sempre que posso leio sobre povos antigos ou obras literárias clássicas da antiguidade.
Elas renovam a experiência da minha insignificância. Eu me percebo, não como indivíduo, mas como um elo da aventura humana.
De um modo geral, o modo de pensar do Ocidente vai na direção da difícil tarefa de construir e polir um ego, para confrontá-lo com outros, em uma competição de brilho, como se isso fosse a meta da vida.
O Oriente está contaminado por essa doença, mas já teve melhores momentos, quando dizia que o ego é uma ilusão, uma enorme perda de tempo, e que existem formas mais sábias de levar a existência.
Para mim esse mergulho na sensação coletiva é como ir ao Beira-Rio. Dar férias para o ego e sentir-se parte de um todo maior.