Em agosto de 1883, o vulcão Krakatoa lançou uma coluna de poeira de 80 quilômetros de altura. Foram 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre formando aerossóis e refletindo a luz solar. O fenômeno criou um “inverno vulcânico” que resfriou a Terra em 1,2 grau. A poluição do ar mudou a cor da atmosfera. O planeta sofreu cinco anos de chuva ácida, causando transtornos na agricultura, até normalizar.
Um evento local causou um transtorno global. Quem viveu naquela época deu-se conta da força da natureza e de como somos pequenos para enfrentá-los. Mas, como temos dificuldade para aprender sem viver uma experiência, e às vezes nem assim, esquecemos o evento e seu ensinamento.
Desde lá, a humanidade fez muitas proezas. Túneis e pontes imensos, aviões encurtam as distâncias, exploramos todos os lugares do planeta. Até saímos dele para visitar a Lua.
Os terremotos assustam, mas, em alguns lugares, a engenharia mostrou que triunfamos frente a eles. Somados a muitas outras conquistas técnicas, nos concebemos no comando do planeta, vivendo em um mundo previsível, dominado e livre da fatalidade.
Quando hoje alguém começa a falar em emergência climática, ele pisa no nosso calo. Como assim estar à mercê da natureza? Bobagem, temos as rédeas firmes, nós submetemos tudo a nosso favor. Ou seja, como se aquele que alerta pedisse que a humanidade abrisse mão da coroa imperial.
O drama quanto à questão climática é que considerá-la faz uma ferida narcísica, pede uma mudança de postura. Levamos muito tempo para nos convencer que não somos os piolhos do planeta e sim os reis do pedaço.
Existe uma resistência a nos percebermos como vulneráveis. Durante a pandemia, não aceitamos que a medicina fosse impotente frente à covid. Para tanto, houve quem alucinou medicamentos que dariam conta, mesmo após testes provarem que eram ineficazes.
O mundo previsível acabou. Eventos climáticos aleatórios causam caos pelo planeta.
O que mais vai ser necessário para nos darmos conta que somos frágeis? Que a natureza não deve ser domada, mas sim cuidada. Quantas vítimas e prejuízos precisarão ocorrer ainda para quebrar a ilusão de sermos senhores deste planeta?