Você já teve, ou viu alguém tendo, dúvidas sobre se trancou a porta? Se desligou o forno? Ou que não sabe onde deixou as chaves? Não é um problema de memória, é falta de atenção. Quando você chaveou, ou não, a porta, estava com a cabeça em outro lugar. A ação funcionou no automatismo. Atos assim, em segundo plano, não são registrados, pois o foco estava no pensamento.
Esse comportamento é normal, porém, se for insistente, mesmo na juventude, é de averiguar o que está acontecendo. Quem convive com isso cotidianamente é quem tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), um quadro de origem genética e ambiental, que afeta o desempenho escolar e o gerenciamento da vida. Mesmo tendo inteligência normal ou superior, só conseguem focar-se em tarefas criativas, ou de sua área de interesse. Nesses casos, entram em hiperfoco, nada os distrai.
A frustração de não se encaixar na vida escolar, amorosa e produtiva gera problemas adicionais: serão mais impulsivos, suscetíveis à desvalia, depressão, acidentes e comportamentos de risco, às adições (álcool e drogas).
No caderno Vida, aqui na Zero Hora, do dia 20/21 de julho, a psiquiatra Fabrícia Signorelli, esclareceu o que é o TDAH. Sua preocupação era o aumento de autodiagnósticos deste quadro clínico, vindos de informações superficiais nas redes sociais, causando uso de automedicação. Em resumo, temos pessoas que sofrem de algo, tomam medicações erradas e se afastam de um diagnóstico e tratamento correto.
Mas por que tantas pessoas atribuem-se esse diagnóstico de TDAH? A atenção é algo a ser conquistado, não vem de fábrica. A aprendizagem escolar também é um processo de treino para sossegar o corpo e se concentrar em algum tema, adquirindo maior capacidade de abstração. O que pode vir de fábrica é a hiperatividade, física e/ou mental, que atrapalha qualquer aprendizado.
O mundo digital é uma fábrica de falsos TDAH. As redes sociais induzem um funcionamento aleatório, o sujeito anda por vários assuntos sem foco. O tempo passa e ele não retém nada, mas é submetido a trocas constantes de assunto, sem nenhuma profundidade.
É um fluxo mental que não cria uma hierarquia de importância, nem uma possibilidade classificatória dos temas. Essa diarreia mental é uma forma de hiperatividade que destrói a atenção profunda, não apenas dos portadores de TDAH, mas de todos usuários.