Recentemente, Porto Alegre passou a ser a Capital Mundial do Churrasco. O título foi concedido, por nós mesmos, os porto-alegrenses. Foi uma escolha difícil entre o único candidato. Com o conhecimento astronômico que temos, de que não há vida nos planetas irmãos, por que não "Capital Solar do Churrasco"? Desculpe, mas pensaram pequeno.
Andando pelo interior, cruzamos com cidades capitais disso ou aquilo. São simpáticas comunidades querendo ser lembradas, buscando uma identidade que as diferencie. Embora seja um recurso provinciano, as ajuda. Quanto a Porto Alegre, ser capital de qualquer coisa, a apequena.
Pense, se alguém merece esse título é Nova Bréscia. Lá faria sentido, além de exportar churrasqueiros, fizeram estrada com uma maneira empresarial inovadora de pensar a churrascaria. Não sei como ainda não fomos processados por apropriação indébita.
Imagino os conterrâneos da fronteira dizendo: vamos para a capital comer um churras! Depois caindo na gaitada. O mesmo vale para os turistas uruguaios e argentinos que passam. Vocês já provaram a carne deles?
A determinação da prefeitura, em parceria com a iniciativa privada, para promover o turismo na capital é louvável e necessária. Mas quanto a essa ideia, não para em pé.
Come-se bem em Porto Alegre. Temos comida de qualidade no quesito sem frescura. Não prospera aqui comida pega trouxa, que é pouca, decorada, conceitual, instagramável. Aquelas que te contam uma história, você come um troço lambuzado de palavras e deixa um rim no caixa.
Há bons restaurantes de quase todos os naipes na Capital. Também temos ótimas padarias, confeitarias idem, fazemos cerveja artesanal excelente. Não faltam bares peculiares e temáticos. Por que, com essa diversidade na mão, centrar na churrascaria? Elas são boas, mas constituem um capítulo de um contexto maior.
É uma ideia do século 20. O ethos do mundo atual é de consumir menos carne. A crise climática, que apenas mostrou o trailer, vai acelerar o consumo consciente de carne e o vegetarianismo. Plantar para gerar comida para animais, para gerar comida para nós, é um ciclo não sustentável e daninho para o planeta.