No aeroporto de Londres, uma companhia aérea usava uma fita com girassóis para identificar pessoas com deficiências não aparentes. Como surdez, transtorno do espectro autista, certas neurodivergências e tantas mais. A função era para a rápida identificação de quem precisa de mais ajuda, acessibilidade particular ou prioritária.
O girassol foi escolhido por ser uma planta resistente e resiliente. A ideia começou a ser copiada e transformou-se em um símbolo internacional para identificar pessoas com dificuldades ocultas. Em junho, o Senado aprovou este símbolo como marca visual desta condição também no Brasil. Ele é opcional e não dispensa o documento probatório da deficiência, caso seja solicitado pela autoridade competente.
Que uma condição, deficiência ou doença, não sejam visualmente aparentes, faz uma enorme diferença para o portador. Temos dificuldade em acreditar no que os olhos não confirmam. O primeiro raciocínio nessa esfera é: essa pessoa está querendo tirar vantagem, é coisa da sua cabeça, não é bem assim, exagera, é malandragem. O pensamento leigo sobre saúde acredita que se alguém aos seus olhos parece bem, então está bem.
O esquecimento do corpo foi subproduto de negar a força do erotismo em nossas vidas. As religiões ocidentais nos fizeram crer que o espírito - seja lá o que isso for -, está acima e não unido ao corpo que o carrega. Nossas dificuldades com um corpo não perfeito, com a decrepitude, com a doença e as síndromes ocorrem porque elas denunciam a fragilidade corporal. Envelhecer é reencontrar-se com o corpo. Afinal, corpo também faz destino.
Descobri por experiência o que é invisibilidade. Nunca me recuperei de todo da covid. Sofro de fadiga crônica, entre outros estragos menores. Com uma vida regrada, exercícios e perda de peso, estou, na aparência, melhor do que antes. Logo, “estaria bem”. Dia sim, dia não, ganho dos amigos e conhecidos, o atestado de curado. Tomo como carinho, eles me querem bem. Desisti de contrariar o veredito, até porque não funciona. Ninguém gosta de incapacidades e doenças. Falar delas é coisa de velho.
Síndrome pós covid, doenças e dores crônicas, são acompanhadas de doses diárias de solidão. Ela chega pela invisibilidade, incomunicabilidade e incompreensão da nossa condição. Haja resistência e resiliência. Comprei um vaso de girassol para conversar e pedir conselhos.