O entusiasmo que tínhamos com novos programas de computador arrefeceu. Agora o frisson do lançamento é temperado com temor. As redes sociais, que mais nos incomodam do que ajudam, são as maiores responsáveis por isso. Fornecem uma sociabilidade de baixa qualidade, que por não satisfazer vicia. O mantra atual é: espelho, espelho meu, existe alguém com mais likes do que eu?
Sem falar no desserviço na circulação de informações. Nunca houve tanto acesso a notícias, a livros, a bancos de dados e nunca se espalhou tanta desinformação e mentira. O acesso às redes sem um tutor, sem alguém mais sábio ao lado, leva o navegante para o brejo da pseudociência e das teorias conspiratórias.
Projetamos o anseio por poder, próprio dos humanos, na máquina
O ChatGPT, eficiente ferramenta de inteligência artificial para produzir texto via chat, ligou a luz vermelha da paranoia. A partir de perguntas e demandas, ele é capaz de escrever melhor do que muitos de nós. É limitado, os dados são restritos ao ano do desenvolvimento, não atualiza-se sozinho. E a literatura que produz é medíocre.
Antes de comemorar o prodígio de uma ferramenta incomum - feita e operada por homens, rodando um programa forjado por homens, usando matemática desenvolvida durante séculos pela humanidade, para recombinar peças do acervo cultural que os humanos construíram durante milênios -, nós ficamos com medo de um software. Eu receio os humanos.
Escutei alguns medos: sentir-se obsoleto, o computador nos ultrapassou. As novas gerações irão usá-lo para colar e desaprenderão a escrever. O computador ganhará vida e nos dominará.
Como sempre, o medo fala mais de nós do que do “vilão”. O ChatGPT é apenas uma ferramenta, não possui autoconsciência. Para nos dominar precisaria querer nossa derrocada, mas máquinas não desejam. Projetamos o anseio por poder, próprio dos humanos, na máquina.
Quando chegaram as ferramentas de busca, ficou obsoleto saber orientar-se numa biblioteca. Operou-se uma perda cognitiva, antes carecíamos ter na cabeça uma árvore classificatória dos saberes para pesquisar. Mas chegaram, e ninguém vai parar de usá-las. Aliás, também servem para colar.
Por que pensar primeiro na trapaça e não na utilidade como ferramenta de estudo? Talvez o atalho da cola, pulse em nós mais do que admitimos.
Eu pego o caminho oposto, tenho esperança que a Inteligência Artificial possa ajudar-nos a driblar nossa burrice natural.