Sinceramente não sei. Aliás, em minha defesa, ninguém sabe. O título é só para provocar o leitor com o que pulsa em todos nós: a apreensão quanto ao futuro. É isso que faz com que tantos comecem a traçar panoramas pós-pandemia. Porém não são mais que projeções de seus medos ou desejos. O futuro ninguém acerta.
Alguém em 2019 previu como estaríamos em 2020? Para sermos coerentes, alguns cientistas alertaram para a possibilidade de um vírus fazer o estrago que está acontecendo. Mas não quando e como. Todos conhecemos o racismo estrutural dos EUA, sua constante tensão, mas que a América iria pegar fogo depois de mais um negro ser morto pela brutalidade policial ninguém tinha ideia.
Existe um livro que não canso de recomendar: “A Lógica do Cisne Negro”, de Nassim Taleb. Ele demonstra como negligenciamos os efeitos dos acontecimentos improváveis no curso da história. Embora o mundo não pare de nos esfregar na cara eventos extraordinários que mudam tudo, nós construímos a posteriori narrativas falaciosas, que ordenam eventos isolados, dando uma aparente coerência e linearidade histórica que nunca houve.
Mircea Eliade, historiador das religiões, dizia que nós humanos sofremos do “terror da contingência”. Ensina que construímos nossos deuses e mitos para dar uma ordem ao caos e criar a ideia de um mundo previsível e confiável.
Não se trata de dizer que não exista lógica, causas e consequências no nosso caminhar histórico, mas que existe também o imponderável. O demônio do acaso nos atropela sempre que pode.
O que me incomoda nesses profecias faceiras e tolas é que pela ansiedade do futuro não prestam atenção ao presente. Seremos diferentes sim, mas a partir das experiências que realmente acontecem. O correto é observar como estamos vivendo e discursando este momento.
Sublinharia quatro aspectos que deixarão marcas. Primeiro, descobrimos que somos biologicamente mais frágeis do que pensávamos.
Segundo, como será dar-se conta que todos os humanos estão envolvidos nesse risco? Temos raros desafios que unem a todos neste planeta.
Terceiro, algumas coisa que fazemos virtualmente resultaram ser tão confiáveis quanto o modo presencial. Seguiremos com elas pela praticidade?
Quarto, nossas prioridades ao encarar a pandemia: primeiro proteger a vida ou a economia? Isso ainda vai render muito discussão. Eis um presente que definirá o futuro.