A questão racial invadiu a campanha presidencial nos Estados Unidos em plena pandemia. Por duas noites consecutivas, centenas de manifestantes tomaram as ruas de Minneapolis, Estado de Minnesota, entrando em confronto com policiais, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão.
A fúria que tomou a cidade foi uma reação à morte de um homem negro, George Floyd, 46 anos, vítima de violência policial. Um vídeo exibido em redes de TV mostra um agente branco ajoelhado sobre o pescoço do homem, quando a corporação atendia a uma chamada sobre uso de cartão de crédito falso em uma loja de conveniência. Ainda nas imagens, o homem afirma:
- Não consigo respirar.
Em seguida, ele para de se mexer e é levado a uma ambulância. A polícia disse que Floyd morreu "após incidente médico durante uma interação policial".
A violência das forças de segurança, em especial de agentes brancos contra negros, é um tema recorrente nos Estados Unidos e costuma ter efeitos políticos. Mesmo Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, enfrentou protestos durante seus dois mandatos. Grande parte dos eleitor afro-americano, tradicionalmente, vota no Partido Democrata, mas seus políticos não são uma unanimidade - Hillary Clinton, por exemplo, não conseguiu herdar o capital político de Obama na eleição de 2016.
Donald Trump, que já não tem simpatia do eleitor negro, está preocupado. Minnesota é um dos chamados battlegrounds (campos de batalha) da eleição – são pelo menos 13 Estados que costumam decidir, na hora H, quem de fato vai para a Casa Branca. Lá, Joe Biden está na frente nas pesquisas, com 49% das intenções de voto, contra 44% de Trump.
Mas isso não significa que a violência dos últimos dias poupará Biden. O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, e o governador de Minnesota, Tim Waltz, são democratas. E a polícia suspeita do ato de racismo e abuso de poder é local. A depender da forma como a crise racial for resolvida, o tema pode transbordar para outros Estados, onde negros e hispânicos compõem importante parcela do eleitorado. O plano da reeleição - já prejudicado em razão dos mortos da pandemia - pode ficar ainda mais distante. Não à toa Trump ordenou uma investigação do FBI (polícia federal) sobre a morte de George Floyd.