Centenas de manifestantes entraram em choque com a polícia e atearam fogo a uma loja na quarta-feira (27), durante o segundo dia de protestos em Minneapolis, Estados Unidos. O motivo é o assassinato de um homem negro que teve o pescoço prensado contra o chão pelo joelho de um policial branco, na segunda-feira (25).
A morte de George Floyd, 46 anos, gerou revolta, e várias pessoas se reuniram no local da prisão para exigir justiça. Carros também foram queimados e uma loja de departamentos foi saqueada. A polícia disparou gás lacrimogêneo, granadas de atordoamento e spray de pimenta, e formou uma barricada humana para impedir que os manifestantes pulassem uma cerca ao redor da delegacia onde trabalhavam, antes de serem demitidos os policiais acusados de matar Floyd.
— Quero que esses policiais sejam acusados de assassinato, porque foi exatamente isso que eles fizeram, cometeram um assassinato contra meu irmão. Eu tenho fé e acredito que a justiça será feita — disse Bridgett Floyd, irmã de Floyd, à emissora americana NBC.
Segundo o Departamento de Polícia de Minneapolis, Floyd foi preso no início da noite de segunda (25) e morreu após "um incidente médico durante uma interação policial". Os agentes afirmam que responderam a um chamado segundo o qual um homem tentava usar cartões ou notas falsificadas em uma loja de conveniência na cidade. Ao chegarem ao local, segundo a polícia, Floyd estava sentado em cima de um carro e resistiu à prisão.
As imagens e a voz estremecida de Floyd, dizendo que não conseguia respirar, foram registradas por uma pessoa que passava pelo local em um vídeo que viralizou na internet. No vídeo, é possível ouvir diversas pessoas que se aglomeravam em volta da cena pedindo que o agente parasse e alertando que o nariz de Floyd sangrava.
Após alguns minutos, o homem imobilizado para de se mexer e fica em silêncio, antes de ser colocado em uma maca e levado em uma ambulância. Perto das 22h, ele foi declarado morto pelo hospital da região.
Imagens de câmeras de segurança próxima ao local da prisão, entretanto, podem desmentir a versão da polícia. No vídeo, Floyd aparece com algemas nas costas e é conduzido pelos policiais sem oferecer resistência. A cidade identificou os quatro policiais como Derek Chauvin, Thomas Lane, Tou Thao e J. Alexander Kueng, mas não disse quem se ajoelhou no pescoço de Floyd e não deu mais informações.
O prefeito de Minneapolis, o democrata Jacob Frey, disse, na quarta (27), que vai pedir ao poder judiciário local a prisão do policial.
"Se a maioria das pessoas, principalmente as pessoas negras, tivesse feito o que um policial fez na segunda-feira, já estaria atrás das grades", escreveu Frey em uma publicação no Twitter.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou a morte de Floyd como "muito triste e trágica" e disse que pediu ao FBI, a polícia federal norte-americana, e ao Departamento de Justiça que acelerem as investigações. Nesta quinta (28), o Departamento de Justiça disse, em comunicado, que já designou promotores e investigadores e que dará "prioridade máxima" ao caso.
"Meu coração está com a família e os amigos de George. Justiça será feita!", escreveu Trump.
Virtual candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden disse que o cenário reflete as injustiças que ainda existem nos Estados Unidos. "George Floyd merecia mais, e sua família merece justiça", disse.
A senadora democrata Kamala Harris disse que a morte de Floyd foi uma "execução pública" e parte de uma "triste realidade" que os "celulares apenas tornaram mais visível. "Desmantelar o racismo institucional em nossa nação começa com a exigência de justiça e a responsabilização dos criminosos."
A morte de Floyd lembra o que aconteceu em 2014 com Eric Garner, morto após ser preso em Nova York. Com o pescoço envolvido pelos braços de um policial branco, o homem, que era negro, repetiu "eu não consigo respirar" 11 vezes antes de morrer.
As palavras moribundas de Garner tornaram-se um grito de guerra para o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), chamando a atenção para uma onda de assassinatos de afro-americanos pela polícia usando força letal injustificada.