Há um projeto aprovado pela Assembleia que ainda precisa ser sancionado pelo governador. Trata da idade de entrar na escola. A Lei de Diretrizes Básicas da Educação normatizou a data de 31 de março como limite do aniversário de seis anos para o ingresso. O pedido é para que se possa matricular crianças aos cinco anos.
Assunto controverso, especialistas da área de educação são contra. Não domino o tema, mas posso dar um depoimento: eu entrei na escola com cinco anos. Sinceramente, não repetiria a experiência, se pudesse.
Não tive dificuldade na questão cognitiva, até porque já sabia ler. Aprendi com meu pai em casa. Ainda guardo o jogo de letras de madeira que me ensinou o segredo da escrita. A questão era outra: maturidade.
Um dia meu vizinho ficou doente e a mãe dele pediu meu caderno para ver a matéria passada. Foi um vexame. Não havia exatamente um caderno. Ninguém examinava tema e caderno de bom aluno. Como tudo andava bem, acreditavam que eu fazia as tarefas. Essa psicose atual com os cadernos dos filhos não tinha nascido. Meu caderno era composto de desenhos de monstros, de animais, um que outro tema, algum papel colorido que colei, rabiscos, frases descabidas, jogo de forca que fazia com os colegas, jogo do ratinho e outras importâncias dessa esfera. O fato é que meu caderno circulou entre alguns adultos e foi motivo de riso.
Chamado na direção, aprendi que caderno não era opcional, que deveria me restringir à matéria e que eu deveria copiar o que estava no quadro. Juro, eu não havia entendido a razão, a filosofia por trás do caderno. Acreditava que podia fazer qualquer coisa, como meu espaço pessoal, portanto para o que me desse na veneta.
A imaturidade cobrava seu preço. Eu estava na sala de aula, mas a cabeça usava o caderno para fazer mapas imaginários onde meu jardim de infância se refugiava. Passei o resto da vida a odiar cadernos.
Sobrevivi e tenho boas lembranças. Tive a sorte de amigos leais, mas foi um estresse desnecessário por nada
Outra questão era a estatura. Eu sempre fui o pigmeu da turma, o mascote. Nessa idade, um ano faz muita diferença, e havia os que entraram com sete anos e os repetentes. Enquanto meus colegas resolviam as coisas na base dos tapas e empurrões, que sobravam para mim também, eu rebatia só com a palavra, não havia outra chance. Para sobreviver, tecia alianças, inventava bravatas, desenvolvi um vocabulário bruto. Enfim, gastava enorme energia para impor respeito. Primário, naquela época, era um Velho Oeste. Não creio que entre os meninos hoje seja muito diferente.
Sobrevivi e tenho boas lembranças. Tive a sorte de amigos leais, mas foi um estresse desnecessário por nada. Vivi uma sensação de desencaixe que durou anos. Caríssimo governador Eduardo Leite, nunca lhe pedi nada, por favor, devolva essa ansiedade tola em começar cedo demais a vida adulta para o quinto dos infernos, de onde nunca deveria ter saído.