Não consigo entender os gramáticos e filólogos. Explicam sobre tudo e mais um pouco da nossa língua, mas nunca enfrentam o tema das palavras erradas. Falo dessas palavras que não combinam com o objeto ao qual definem, que nos remetem a um sentido descompassado, mostrando um divórcio entre o som e o significado.
Com isso perde-se palavras boas para coisas equivocadas. Por exemplo, Clamídia é um nome maravilhoso para uma flor da família das crassuláceas. Consigo imaginar um buquê delas entre as astromélias, as margaridas e os gerânios. Mas não, desperdiçaram um belo nome floral com uma doença sexualmente transmissível.
Por favor senhores doceiros, já que os linguistas se omitem, salvem o profiterole. Nome de doce tem que ter luz, ternura e maciez. Pensa em quindim, baba-de-moça, papo-de-anjo, pastel de Santa Clara. Profiterole, palavra dura, ácida, no melhor dos casos soa como taxa de dosagem de exame de sangue. Consigo ver o médico falando: – seu colesterol e os triglicerídeos estão bem, já o profiterole pede cuidados.
Intempestivo é um adjetivo sonoro, forte, mas imprestável assim como está. Pensamos num cara marombado que chega dando porrada, quebrando tudo. Intempestiva não soa como aquelas mulheres que fazem barraco do nada? Afinal, tem tempestade no nome. Mas não, é só algo fora de hora. Quem que vai usar isto certo? Põe no Enem e rodam todos.
Lêndea é outro nome mal aproveitado. Soa bem para um nome próprio. Imaginem três irmãs: Laura, Lívia e Lêndea. Mas não, com tanta palavra feia, sem serventia, usaram essa pérola, que serviria para uma alegre professora de piano, para nomear ovos de piolho.
Lêndea é outro nome mal aproveitado. Soa bem para um nome próprio. Imaginem três irmãs: Laura, Lívia e Lêndea
Sopitar não é repetir a sopa que se gostou, é adormecer. Pode?
Pensem no diálogo que me contaram. A mulher colocou um vestido novo, um tanto quanto ousado. Perguntou ao marido o que ele achava e ele lhe disse: – Pulcra! Ela recuou um passo e ele acrescentou: – Pulcríssima! Brotaram lágrimas nos olhos dela. Magoada, ela o acusou de ser um machista ciumento e idiota. O homem, em sua defesa, disse que foi mal entendido. Tentou consertar: – Sua aparência está pudibunda, lhe asseguro.
O resultado é que não saíram aquela noite. Ele só foi perdoado no outro dia, depois de conseguir um dicionário. Teve que explicar que pulcra, embora remeta imaginariamente a égua xucra, quer dizer linda. Já pudibunda significa recatada, embora carregue, veja o paradoxo, uma bunda na terminação. Mas vamos à ciência: estatisticamente, qual é a chance de você levar um a bifa se disseres a uma mulher que ela é pulcra ou pudibunda? (Não tente isso em casa.)
Neste casal os dois tinham razão, mas mais ela, ao meu ver. Quer dizer, ela errou em arrumar um namorado parnasiano. Mas por favor, escutem essas palavras e digam se não é para criar confusão.
Senhores das letras, tomem tenência e arrumem essa bagunça.