Encontrei umas colegas para trocarmos ideias sobre intervenção em escolas quanto à prevenção do suicídio. Eram de Goiânia, estavam preocupadas com o aumento do número de casos locais e chocadas com a precocidade de dois deles, na faixa dos 12 anos.
Infelizmente não avançamos quanto a estratégias de prevenção. Concordamos que os casos, ao contrário do senso comum, não necessariamente estão na esfera da depressão, e que não fazem um conjunto. Examinando posteriormente os atos, eles não revelam padrão, o que torna difícil ter práticas profiláticas.
Não encontrei um conselho aos colégios, mas aos pais formularia um: ensine a seus filhos como navegar pela tristeza, pelas frustrações, pelas más notícias. Criamos filhos com um escudo protetor e encenamos cenários demasiado positivos do mundo que os espera.
Faz sentido protegê-los da crueza em um primeiro momento, eles nem teriam condições de entender, e é preciso desenvolver uma confiança básica no mundo, para não criar fóbicos. O problema é que levamos isso longe demais. Na puberdade, que é quando perdemos o controle do que chega aos filhos, eles estarão sem anticorpos para digerir o mundo que os invade. Algumas depressões adolescentes são um desencanto, uma ideia de que foram enganados, e querem de volta o paraíso perdido. Descobriram, de um só golpe, as mazelas humanas.
No cerne da condição humana, existe uma angústia inevitável. Ela advém de nos sabermos mortais, de perceber nossa animalidade subterrânea, de reconhecer as limitações da existência. As religiões, e boa parte das filosofias, nasceram para minimizar esse fato. Quando somos pais, douramos momentaneamente a pílula, mas alguns acreditam no próprio conto de fadas que inventaram. Em vez de se manterem adultos, identificam-se com os filhos que vivem nessa provisória e necessária fantasia. Essa operação de negação é que cria o ambiente infantilizado de que padecemos e os adolescentes despreparados para o mundo.
Não procure pautas tristes para falar com os filhos, mas não fuja de uma que cruzar. Elas chegam
É preciso dizer aos filhos sobre nossa própria impotência. Não somos deuses que tudo resolvem, como eles acreditaram durante um tempo. Com o fim da infância, queira-se ou não, chega o desafio da sexualidade, da sociabilidade, da disputa de prestígio, da capacidade de decodificar e resolver problemas seus e alheios. E nós não estaremos junto. Ele vai se valer do que lhe foi passado.
Não procure pautas tristes para falar com os filhos, mas não fuja de uma que cruzar. Elas chegam. É impossível estar de fora do tema da morte, das doenças, das injustiças, dos desencontros amorosos, da angústia de viver. Converse, pense junto, em como seguir no rumo e arranjar coragem quando a vida torna-se adversa. Assim não vão se sentir sozinhos, nem únicos, nem traídos quando enfrentarem o quinhão de infelicidade e tristeza que o destino fornece a todos.