Nasci na cidade, assim como milhares de outros gaúchos. Não trabalhei diretamente no campo, mas sou filho de agricultores. Meu pai e minha mãe cresceram no Interior, mudaram-se para a cidade em busca de oportunidades, assim como outros tantos casais que nos anos 1980 abandonaram a vida rural, tão desafiadora.
Viver no campo ainda exige coragem. Hoje já tem internet, sinal de TV, muitas modernidades como em grandes cidades. Mas ainda é preciso enfrentar estradas de chão batido (muitas vezes precárias), dificuldade no acesso à saúde e à educação. Sem falar na missão diária, sem folga, de lidar com os animais e na incerteza de safras expostas às mudanças do clima.
Mas estou aqui hoje para escrever sobre como é bom valorizar o Interior. Entre as minhas memórias mais felizes da infância estão as das férias lá no interior de Santo Expedito do Sul, no norte do Estado.
A família inteira costumava ir pra casa da minha vó. A festa no salão da comunidade tinha almoço, rifão e matinê. Dava pra ouvir o barulho da cancha de bocha. E os dias quentes de verão eram ideais pra tomar banho no rio, pescar. Eu adorava acompanhar minha tia tirar leite das vacas no fim da tarde e debulhar milho no galinheiro.
Nem todos os gaúchos têm essa conexão com o Interior, mas pra essa turma da cidade há um paraíso de campo bem pertinho, uma vez por ano. Começa amanhã mais uma Expointer.
Além de toda importância que essa feira tem para a agropecuária gaúcha com cifras impressionantes em negócios, exposição de animais de genética apurada, discussões relevantes pra impulsionar o setor, a Expointer tem algo ainda mais valioso: apresentar a grande riqueza do RS.
Pelo Parque de Exposições Assis Brasil, recuperado depois de também ficar embaixo d’água durante a enchente, os próximos dias serão de visitas de famílias que encontram na Expointer uma oportunidade de vencer a barreira do tempo.
Para quem é adulto, e com lembranças de infância como eu, é uma reconexão nostálgica — o cheiro da Expointer tem uma mistura de silagem com a fumaça das churrasqueiras, bem parecido com aqueles domingos das festas no salão da comunidade do Interior. E para quem tem filhos deve ser ainda melhor, as crianças olham curiosas para os bichos. Não tem como não ficar encantado vendo um lindo cavalo, uma grande vaca, uma ovelha bem fofinha! Todo gaúcho deveria visitar a Expointer.