Uma hora é preciso encarar a realidade. Sanções políticas e econômicas como as impostas à Venezuela não têm sido capazes de reverter um regime autocrático com a cara de pau de aplicar um estelionato eleitoral à vista de todos. Ao contrário. Por mais bem intencionadas que sejam, sanções só têm servido para punir por tabela opositores do regime e reforçado a narrativa de perseguição externa para justificar as penúrias econômicas da população.
O caso de Cuba é um clássico. Desde 1961, os EUA mantêm um embargo comercial à Cuba, numa iniciativa em que se misturam ingenuidade e demagogia com eleitores de origem cubana. O embargo é absolutamente inútil porque o resto do mundo segue negociando com a ilha. Além disso, o boicote norte-americano, mesmo ineficaz, é usado pelo regime de Havana e por simpatizantes, inclusive na esquerda brasileira, como desculpa para as mazelas cubanas.
O antídoto mais eficaz contra a falta de liberdade é o gosto de liberdade e de acesso a bens materiais
Irã, Rússia, Síria, Coreia do Norte e outras nações sob sanções também se valem dos entraves para unir a população contra supostos inimigos externos. Enquanto isso, aliados de ocasião se fartam em negócios e negociatas com os sancionados. Em Cuba e na ex-Iugoslávia, vi na prática o resultado das sanções. Hotéis cinco estrelas de Havana e Belgrado seguiam bem abastecidos para atender à elite local que, como ocorre no alto escalão venezuelano, não só dribla o embargo como enriquece com o contrabando e o inevitável mercado paralelo. O resultado: a nomenklatura fatura alto enquanto os destituídos ficam ainda mais pobres e ressentidos contra quem impõe as sanções.
O que o mundo democrático deve fazer, então, com essas ditaduras que ameaçam vizinhos ou promovem o terror externo e interno? Um primeiro passo é o isolamento diplomático, dificultando a movimentação e o prestígio dos membros do regime. Bloqueio de contas dos próceres desses governos e seu banimento de órgãos decisórios internacionais também deviam ser um padrão, bem como a proibição de venda de armas e transferência de tecnologia que possam ser usadas pelo aparato repressivo.
O antídoto mais eficaz contra a falta de liberdade é o gosto de liberdade e de acesso a bens materiais. Os soviéticos viram que podia haver um mundo diferente quando viajavam milhares de quilômetros para fazer fila no McDonald’s em Moscou. A arma mais eficaz contra o autoritarismo e extremismos religiosos é Hollywood. A indústria cultural, o comércio e o trânsito de turistas vindos de países autoritários devem ser os mais abertos possíveis, portanto. O desejo de liberdade e de consumo produz milagres, como se viu no fim do regime soviético. Que assim seja também na Venezuela e em todas as outras ditaduras do planeta.