Fato 1 – Oito das 20 escolas públicas gaúchas de Ensino Médio mais bem classificadas no Ideb são militares. Seis delas são ligadas aos colégios Tiradentes, da Brigada Militar. As outras duas são os colégios militares mantidos pelo Exército em Porto Alegre e Santa Maria.
Fato 2 – Nem todo esse resultado pode ser atribuído a um rigoroso processo de seleção externa. Das 558 vagas abertas em 2024 para o primeiro ano do Ensino Médio nos colégios Tiradentes, 235 foram destinadas a filhos de brigadianos e bombeiros militares, sem necessidade de concurso.
No passado e hoje, a gênese dessas escolas — e de qualquer outro ensino de sucesso no mundo — é o respeito ao professor, tanto pelos alunos como pela comunidade escolar
Além do tempo integral, qual o segredo das escolas militares para a performance invejável? A resposta de bate-pronto é disciplina, base de qualquer organização militar e na qual se assenta o cumprimento dos deveres. É para estudar? Então que se estude. É para praticar esportes? Então que se pratique da melhor forma possível. É para se fazer o trabalho? Que se faça no prazo. É para não conversar ou usar celular em sala de aula? Então que não se converse e não se use.
É preciso, contudo, se ir bem além da disciplina para explicar os números do Ideb. E aí recorro a minha própria experiência, como ex-aluno dos colégios militares do Rio de Janeiro e de Salvador. No passado e hoje, a gênese dessas escolas — e de qualquer outro ensino de sucesso no mundo — é o respeito ao professor, tanto pelos alunos como pela comunidade escolar. Não se trata do exercício da pedagogia do medo, mas de admiração e reconhecimento a quem está ali para formar novas gerações.
Lá atrás, quando eu era estudante, nem tudo eram flores. Havia professores militares enfadados à espera da passagem para a reserva e a didática, como em quase todo o ensino de então, baseava-se na decoreba. Isso mudou, mas a disciplina e o respeito seguem como pilar para outro sentimento que move alunos, professores e o corpo de funcionários: o orgulho pela escola e o consequente senso de cuidado com o patrimônio e a tradição de ensino da organização.
Por serem de caráter militar, tais escolas sofrem com o preconceito de quem não convive com elas. No governo Olívio Dutra, recorde-se, uma das principais polêmicas foi a tentativa de tirar os colégios Tiradentes da esfera da BM. No imaginário de uma parte da sociedade, as escolas militares formam soldadinhos que só obedecem ordens e são incapazes de pensar com a própria cabeça. Como todo preconceito, é uma grossa injustiça. Do meu grupo de ex-colegas de colégio, como em qualquer círculo social, saiu de tudo: esquerdistas e direitistas, jornalistas e médicos, antropólogos e empresários, e até militares. É para parar, pensar e aprender algo com essas escolas.