Pela largada do comboio eleitoral de Porto Alegre, as campanhas vão se conduzir pelo retrovisor e, quando muito, olhar 10 metros à frente.
A ausência de uma visão estratégica para as metrópoles brasileiras não é deficiência exclusiva da Capital, mas aqui ela se agrava. Depois da catástrofe de maio, o que era um problema se tornou um dilema existencial para Porto Alegre, que, mais do que nunca, precisa de uma perspectiva de longo prazo sobre em que cidade viveremos daqui a 10, 20 ou 30 anos.
O que era um problema se tornou um dilema existencial para Porto Alegre
O debate da Rádio Gaúcha, na terça-feira passada, foi um aperitivo: menções óbvias à necessidade de recuperação, manutenção e aprimoramento da infraestrutura e dos serviços. É pouco, muito pouco, diante do que há pela pela frente. Não bastasse a tragédia das enchentes, o mundo do emprego começa a passar por uma revolução que vai criar algumas cidades vencedoras e produzir uma legião de metrópoles deserdadas.
Coincidentemente, Porto Alegre recebeu no dia seguinte ao debate o aclamado economista Nouriel Roubini para uma palestra no Fronteiras do Pensamento. O primeiro economista a vislumbrar a debacle de 2008 lançou o livro Mega-Ameaças, no qual enumera 10 potenciais causas de desastre econômico e social, que, por outro lado, podem virar oportunidades se absorvidas por estratégias eficazes de antecipação a crises.
Uma delas, e uma das mais avassaladoras, é a inteligência artificial, que vai pulverizar milhões de empregos nos próximos anos – e criar outros tantos. O que os candidatos a liderar a cidade planejam para que a próxima geração possa não só assegurar sua renda mas também prosperar? Quais são os diferenciais competitivos que precisam ser identificados e explorados para que Porto Alegre não seja levada de roldão? Como induzi-los?
Há muitas outras questões-chave a serem elucidadas por quem pretenda de fato liderar a cidade, na acepção mais profunda de líder. Vai aqui uma pista: Porto Alegre conta com uma excelente rede de universidades e de hospitais que ainda não se conectam com uma estratégia de gestão de futuro municipal, mas que podem ser molas-mestras do desenvolvimento, juntamente com o esporte e a cultura, outras duas vocações que dão certo por aqui.
Amarrar as pontas, como busca fazer o Pacto Alegre, e fazê-las trabalhar em prol da renda e da qualidade de vida dos cidadãos pode não ser tão emocionante para um candidato quanto prometer – sem detalhar como – transporte, saúde e educação de primeiro mundo. Mas todas essas promessas serão quimeras se não houver uma estratégia arrojada e factível que assegure os recursos para colocar o trololó de sempre em prática.