As idas e vindas em relação à Venezuela abrem uma incógnita sobre qual Lula está falando quando diz que não viu nada de grave na farsa eleitoral de Nicolás Maduro. Há muitos Lulas possíveis na pele do presidente. Escolha a sua versão.
- O amigão – Em 2013, Lula gravou um vídeo de apoio para a campanha de Maduro. E foi o brasileiro quem estendeu o tapete vermelho para receber o aliado em Brasília, em maio de 2023, demarcando seu retorno aos salões de uma democracia. Na ocasião, como velhos amigos, trocaram sorrisos, abraços e promessas de cooperação.
- O caradura – Lula sabe bem o que se passa no submundo do regime e das eleições venezuelanas, mas faz de conta que a Venezuela vive na normalidade democrática. Confuso, ingênuo ou cínico, trata o conselho eleitoral da Venezuela, um braço do governo de Maduro, como se fosse uma justiça independente, que não existe na Venezuela. Apesar de líder inconteste do PT, afirma que o partido, como na defesa da vitória de Maduro, tem autonomia para se manifestar.
A aliança histórica do PT e do MST com o chavismo bloqueia qualquer tentativa de desgarre de Lula em relação a Maduro
- O pragmático – Esse Lula também coloca uma venda nos olhos, mas faz considerações incômodas a Maduro, como pedir transparência e a divulgação das atas eleitorais, sem avançar a linha que possa levar a um desentendimento. A versão pragmática de Lula pensa na dívida de U$ 1,2 bilhão da Venezuela com o Brasil, nos negócios entre os dois países e na extensa fronteira ao Norte.
- O diplomático – Lula articula países da região para pressionar por eleições livres, e segue na afinidade com o chavismo para manter alguma ingerência sobre Maduro, evitando ainda mais loucuras, como a invasão da Guiana pela Venezuela. Esse Lula conversa com Joe Biden sobre o vizinho e sonha em ser um indutor da sua redemocratização.
- O esquerdista – A aliança histórica do PT e do MST com o chavismo bloqueia qualquer tentativa de desgarre de Lula em relação a Maduro. Quando se trata da autocracia chavista, o Lula que escolheu Cuba para passar o Réveillon de 2020 para 2021 está mais para a esquerda caquética e autoritária do nicaraguense Daniel Ortega do que para a esquerda contemporânea e democrática, além de crítica a Maduro, do chileno Gabriel Boric.
- O antiquado – Um Lula que deixou de ser novidade nos círculos de maior prestígio empurra a diplomacia do Brasil para o lado de párias como a Rússia, o Irã e o Hamas. Lula não viu o tempo passar e tem dificuldade de lidar com a nova ordem mundial.
- A esfinge – Quando não se entende um comportamento, é porque tem algo que não quer ou não pode vir à tona. Na relação com a Venezuela, é um enigma a ser decifrado
- O contraditório – Uma combinação de todos acima.