O que deveria ter sido feito para que Kerollyn Souza Ferreira, de nove anos, estivesse viva hoje e se preparando para ir à escola na segunda-feira, como tantos milhões de brasileirinhos? Ninguém via que a menina dormia por vezes em um carro abandonado? Os representantes do conselho tutelar não perceberam algo de muito errado? Se notaram, por que não agiram antes que fosse tarde? Se não notaram, outros tantos meninos e meninas em condições similares não estão, eles também, à beira de uma fatalidade? Este é o procedimento-padrão estabelecido por leis e regramentos? Se o é, alguém acha que o modelo é eficiente? Se não é, por que é adotado? Está certa a crença dos conselhos tutelares de que devem tentar de tudo para que os filhos sejam mantidos na família? Qual o limite para essa crença? Estão conselhos e conselheiros preparados e conscientes para fazer as avaliações decisivas em questões tão subjetivas? É melhor prevenir do que remediar ou é melhor insistir em uma situação que pode fugir do controle? Como identificar com clareza as circunstâncias de alto risco quando elas não estão tão evidentes, como marcas de violência e agressão? Com tantos registros de ocorrências de pais e parentes, não era para desconfiar de que a ameaça a Kerollyn era real e iminente?
Quem mais poderia ter intervindo pela menina antes que fosse tarde? Os vizinhos? A escola? O Ministério Público? A polícia? Os serviços sociais da prefeitura? Outros?
Só a desconfiança basta para uma ação mais radical? Os demais parentes poderiam ter feito algo mais além de procurar o conselho tutelar? Toda a responsabilidade pelo descaso no episódio cabe ao conselho? Quem mais poderia ter intervindo pela menina antes que fosse tarde? Os vizinhos? A escola? O Ministério Público? A polícia? Os serviços sociais da prefeitura? Outros? A mãe teve acesso a métodos anticoncepcionais? Se não, por que não? Se sim, por que teve quatro filhos e os negligenciava? Tinha algum problema mental? Se tinha, o que deveria ter sido feito? Se não tinha, como pode ter se mostrado tão fria quando informada da morte da filha? É crueldade? Se é crueldade, alguém tão cruel pode ficar com a guarda de quatro crianças? Por que ela não pôs os filhos para adoção se não se dispunha a cuidar deles? Ela foi abordada sobre essa hipótese? Era possível, ou seria ético, induzi-la a encaminhar os filhos para outras famílias? Como isso deve ser feito, quando e por quem? Quais os limites da não intromissão nas decisões íntimas de uma família?
Pode o Estado tirar os filhos de uma mulher sem provas contundentes de que eles correm risco? Depois desse episódio, não seria sensato rever todo o sistema de proteção à infância antes que novas tragédias se repitam? Aprendemos alguma coisa com o caso Bernardo? Vamos aprender algo com o caso Kerollyn?