Sempre que se comparar o Brasil com outro país, é bom olhar para o México. Por história, cultura, demografia, estágio de desenvolvimento e até geografia, as circunstâncias mexicanas estão bem mais próximas das brasileiras do que as, por exemplo, da França ou da Indonésia. No México, como no Brasil, o combate ao crime é tema central de campanhas eleitorais. Lá, o atual presidente, André Lopez Obrador, usa o slogan “abrazos no balazos (“abraços em vez de balas”), mas não logrou avanços efetivos no combate aos carteis do narcotráfico. O México tem sete das 10 cidades mais violentas do planeta, medidas pela taxa de homicídios.
No Brasil, não há tema mais incandescente, e que tenha favorecido mais o crescimento recente da direita, do que a dificuldade da esquerda em assumir o enfrentamento da criminalidade e produzir resultados práticos onde governa. A esquerda brasileira derrapa no tema e a direita se lava porque grande parte da população, de todas as classes, está cansada de discurseira teórica e só quer dormir em paz enquanto a filha não chega em casa.
As principais correntes ideológicas brasileiras condenaram o assassinato de um policial da Rota no Guarujá, mas o discurso do governador Tarcísio de Freitas, em apoio às forças policiais depois de confrontos que deixaram 16 mortos, é um bem calculado gesto político. Ele sabe que, a cada vez que a esquerda titubeia em manifestações que vão da invasão de propriedades à ação armada em áreas tomadas pelo narcotráfico, a rede de simpatias pela direita vai recolhendo mais adeptos. Para se entender o fenômeno, basta se constatar a popularidade acima de 80% do governo de El Salvador, que, entre abusos e denúncias, derrubou a criminalidade ao prender, e manter presa, 2% da população adulta em 10 meses.
O Brasil ainda não é o México, onde os carteis são pequenas forças armadas e avançam sobre outros setores do país, deixando um rastro de sangue com o assassinato frequente de políticos, jornalistas, padres e policiais. Mas os sinais de alerta estão aí. No Rio de Janeiro, a companhia de eletricidade, a Light, quebrou, entre outras razões, porque simplesmente não consegue impedir o furto de energia em 30% do território fluminense controlado pelas milícias e pelo tráfico.
Por aqui mesmo, a outrora pacata Rio Grande entrou na lista das 50 cidades mais violentas do país porque o tráfico, como ocorre na Baixada Santista, disputa o controle de uma cidade portuária onde embarca drogas. E que ninguém se iluda com a baixa taxa de homicídios de São Paulo. É porque lá uma grande facção já domina há décadas o Estado, enquanto em Porto Alegre 80% dos homicídios estão ligados à guerra de facções. Na dúvida sobre o que não funciona, olhe-se para o México.