Embora em graus distintos de gravidade, os erros a que se assiste no caso da agressão à família do ministro Alexandre de Moraes em Roma são o retrato de um Brasil que escreve uma história já feia por linhas tortas. Vamos a eles:
1) A viagem – A rádio Band News revelou que o fórum do qual o ministro Moraes participou na Itália foi organizado por uma faculdade de direito pertencente ao Grupo José Alves, de Goiás. O grupo é dono da Vitamedic, que ganhou uma fortuna com a ivermectina e cujo diretor-executivo chegou a depor na CPI da Covid. O grupo e outros foram condenados pela Justiça Federal a pagar R$ 55 milhões por “danos morais coletivos à saúde” por promover fake news sobre a pandemia. Nem o grupo e nem o STF informaram quem pagou as despesas de Moraes e família. Se o ministro sabia quem estava por trás do fórum, foi uma temeridade. Se não sabia, foi ingenuidade. O STF precisa urgentemente de um novo código de conduta para acabar com essas sombras à reputação da corte.
2) A exposição – O ministro Alexandre de Moraes é um alvo evidente e, por isso, autoridades brasileiras deveriam ter se coordenado com seus pares italianos para garantir a integridade de uma pessoa pública que está sob risco constante. Astros dos esportes e da música, bem como ex-presidentes e outros potenciais alvos, entram e saem de aviões virtualmente anônimos. Faltou prevenção, portanto.
3) A agressão – A violência contra o ministro e familiares evidencia que conta bancária não é sinônimo de educação. A estupidez de atacar personalidades em restaurantes e aeroportos é incentivada por fanáticos, mas não é exclusividade de extremistas de direita – a jornalista Miriam Leitão, por exemplo, já foi hostilizada em locais públicos por radicais dos dois polos ideológicos. Punir, de acordo com as leis, quem comete crime é o caminho para inibir os fanáticos e restabelecer um mínimo de civilidade nas relações sociais.
4) Busca e apreensão – O Supremo Tribunal Federal autorizou a Polícia Federal a vasculhar dois endereços dos acusados em Santa Barbara d’Oeste. Por mais execrável que tenha sido o episódio no aeroporto de Roma, a PF não pode servir de guarda pretoriana de quem quer seja e revirar casas de suspeitos sem que fique evidente a relação com o caso. Isso é coisa de Rússia de Putin.
5) Lula – Contanto que valha para todo o espectro ideológico, é louvável que o presidente se solidarize com pessoas agredidas. Mas chamar os acusados de “animais selvagens” é uma classificação típica de extremistas, além de politicamente incorreto, porque carimba a fauna nativa com pecha negativa.
Em resumo, mais um suco não tão puro de Brasil.