Quando a estatal de telecomunicações gaúcha, a nada saudosa CRT, foi privatizada, teve fim uma era em que se usava pistolão para conseguir telefone, que, de tão valioso, era declarado no Imposto de Renda. Apesar da privatização, as mazelas da CRT não sumiram da noite para o dia. Deficiências históricas se acumulavam e inundavam de queixas a seção O Rio Grande Reclama, de Zero Hora. Eram tão frequentes as respostas assinadas na seção pela gerente de Comunicação da CRT privatizada, Rita Campos Daudt, que eu, então chefe de redação de ZH, brincava que a qualquer hora ela poderia pedir vínculo empregatício com o jornal.
Passaram-se os anos, a empresa mudou de controle algumas vezes e, apesar de muitos problemas com os usuários, seus sucedâneos puseram fim aos pesadelos da CRT. A privatização das telecomunicações no Brasil, onde hoje há mais de um celular por habitante, evidentemente é um sucesso.
Os detratores das privatizações, porém, ganharam agora um fôlego com a ineficiência da compradora da CEEE-D, a Equatorial, em solucionar a queda de energia que atormenta usuários mais de duas semanas depois de um ciclone.
A Equatorial ofereceu uma batelada de justificativas para contestar a demora e para a dificuldade de lidar com a demanda por comunicação com os usuários. É uma situação rara de não se conhecer alguém satisfeito com a performance da empresa nesta área, sobretudo quando ela seria mais urgente e necessária. Em comunicação, o que importa é a percepção e, no episódio, a empresa passa a imagem de lenta e negligente, exatamente o que de pior se associa a estatais.
De qualquer forma, é cedo para julgamentos definitivos. A empresa pode se recuperar da crise de imagem das últimas semanas se entender como funciona o Rio Grande do Sul e corresponder ao grau de qualidade e atenção exigidas por seus usuários. Mas não tenho dúvida de que se deve louvar a privatização da CEEE, uma estatal quebrada que não cumpria sequer a obrigação mínima de recolher o ICMS aos cofres públicos. Bastaria a volta do pagamento de impostos para justificar a privatização, embora seja preciso ir bem além.
Fora do Estado, a CEEE é chamada de C3E, mas agora a Equatorial já sabe também que o Rio Grande do Sul tem granizo, geada, seca, enchentes, vendaval, chuvarada e ciclones como parte de sua natureza imutável. Então que se prepare à altura para os próximos temporais. E, mesmo que a conta venha ser mais salgada por anos à frente, é preciso um dia enterrar a fiação nas cidades. Em boa parte do mundo onde a fiação é subterrânea, se desconhece falta de energia durante tempestades. Está na hora, portanto, de começar a apresentar essa experiência civilizatória aos gaúchos, como um dia o foi a troca de lampiões pela luz elétrica.