Quando você deparar com uma destas palavras do título em um post de rede social, é bem provável que o tema não seja urgente, grave ou que sequer mereça sua atenção. As redes têm lá seus méritos, como reconectar amigos e parentes afastados, mas também criaram a ditadura da ansiedade, que tem como porta-estandartes a urgência, a gravidade e a obrigação de se prestar atenção – na prática, artifícios para gerar engajamento.
Engajamento, como se sabe, é a forma como as redes e os cultivadores de seguidores ganham dinheiro. Sempre que alguém interage com algum conteúdo, está doando informações pessoais às redes, que assim vendem publicidade focada para o usuário. Não há almoço grátis, é claro. O problema é que, para estimular essa interação, multiplicam-se truques digitais, como o de se inventar urgência e gravidade para qualquer asneira. Outro é criar falsas sensações de exclusividade ou despertar indignação, um recurso frequente de charlatães que se passam por jornalistas para forçar o tal engajamento e assim extrair audiência e dados de incautos.
Em mais de quatro décadas de jornalismo, posso atestar que poucos fatos são realmente urgentes. No início dos anos 80, quando eu era redator na Rádio Gaúcha, as notícias chegavam via telex em uma sala da redação de Zero Hora, que ficava no andar de baixo do prédio da Avenida Ipiranga. Uma notícia urgente despachada por agência era acompanhada pelo som de um sininho no teletipo. Um técnico, então, batia numa caixa metálica para alertar a redação da Gaúcha. Com a respiração suspensa, eu corria para puxar a caixinha com a cópia do telex urgente. No período de um ano típico, não mais do que uma dúzia de notícias eram verdadeiramente extraordinárias: o início da guerra Irã x Iraque, os atentados contra Sadat e Reagan, a bomba no Riocentro e algumas poucas situações a mais.
Depois, em mais de 10 anos como diretor de Redação de ZH, foram bem raras – bem menos do que fazia supor o cinema – as ocasiões em que ordenei o famoso “parem as rotativas!” ou que se tomou a decisão de rodar uma edição extra. A realidade tem menos graça, como se vê. Hoje, muita bobagem ou irrelevância nas redes é catalogada como urgente para despertar o chamado “Fear of Misssing Out”, conhecido pela sigla Fomo, que se pode interpretar como o medo de se estar perdendo algo importante. É a mãe de todas as ansiedades informativas – ou desinformativas.
Importância, aliás, é um conceito sobre o qual as redes fizeram terra arrasada. Nas redes e nos grupos de zap da vida, perdeu-se a relevância ou ela passou a ser ditada por um logaritmo caça-níquel. Que o ano de 2023 seja, para todos nós, menos grave e urgente, e com as atenções mais seletivas para o que realmente importa.