“O avanço da inteligência artificial (IA) levanta importantes questões éticas e sociais sobre o futuro do trabalho e a nossa relação com a tecnologia”.
Não, não fui quem escreveu a frase acima. Foi a própria IA, mais precisamente o ChatGPT, quando eu pedi a ele que me desse uma frase curta sobre inteligência artificial para um artigo de jornal. O uau! tecnológico deste fim de ano não me ofereceu uma, mas quatro frases – nenhuma brilhante, por certo, mas todas perfeitamente aproveitáveis.
Também perguntei ao ChatGPT o que seria uma boa definição para ele. O bicho me respondeu com todas as vírgulas e detalhes no lugar, mas prefiro eu mesmo traduzir. Esse chat é o primeiro robô ao alcance de todo usuário de internet a interagir com razoável perspicácia a virtualmente qualquer questão do universo. Não cheguei a discutir com ele se cachorro-quente pode ser considerado sanduíche, como o fez o colunista Farhad Manjoo, de The New York Times, mas o troço é absurdamente esperto ao responder mesmo a questões cabeludas sobre a política brasileira. O robô foi preciso mas deu uma volta para não se comprometer. Pelo jeito, ele está alimentado com a alma da diplomacia também.
ChatGPT pode resolver equações complexas, escrever poemas até sugerir uma nova decoração para o seu quarto – o que produz questionamentos sobre o futuro, ou pelo menos os inevitáveis impactos e adaptações de algumas profissões. Não me xinguem. A de jornalista também está na roda, porque o ChatGPT redige notícias e textos bem acabados se você fornecer a ele os dados necessários. Mas o brinquedinho, de fato, é um enorme desafio moral também, porque permite a estudantes preguiçosos apresentar redações e cumprir tarefas com o mínimo de esforço e, no fundo, fazer um sujeito tosco parecer um Prêmio Nobel de Física e Literatura ao mesmo tempo.
O ChatGPT é ruim para informações recentes – ele mesmo adverte que só foi atualizado até 2021 -, o que não invalida o enorme potencial futuro que se descortina com o uso de chatbots (o nome correto da geringonça). Por enquanto, a OpenAI, que desenvolveu o ChatGPT, o mantem aberto e de graça (comece por aqui https://openai.com/blog/chatgpt/) e avisa que todas as questões poderão ser usadas no aperfeiçoamento da ferramenta, valendo-se da IA, é claro.
Uma delas poderia ajudar governos a evitar sandices econômicas. Perguntei ao ChatGPT se é possível a um governo ter responsabilidade social sem responsabilidade fiscal. A resposta: “Um governo que gasta pesadamente em programas sociais sem gerar receita suficiente ou controlar despesas pode terminar com altos níveis de dívida ou déficit, o que no fim atinge a capacidade do governo de manter os próprios objetivos sociais de longo prazo”.
Deveria ser óbvio, mas é bom que até as paredes reforcem esse alerta.