Não há como evitar a comparação entre o aloprado que colocou a bomba em um caminhão de combustível próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília e o atentado ao Riocentro, nos estertores da ditadura militar. Nos dois casos, separados por quatro décadas, trata-se de terrorismo praticado por lunáticos que pretendiam causar o máximo possível de estragos. Com resultados diferentes, o Riocentro, em abril de 1981, e a bomba no caminhão de querosene, em 2022, serviram para mostrar que os radicais não têm limite e que só o fato de serem incompetentes do ponto de vista técnico evitou uma tragédia.
George Washington Oliveira de Sousa, o homem preso e enquadrado por terrorismo, era adolescente em 1981. Pelo que disse no depoimento à Polícia Federal, faz parte de uma seita de fanáticos que quer criar o caos para justificar uma intervenção militar e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Está claro que não agiu sozinho e que compartilha seu instinto assassino com outros terroristas travestidos de patriotas.
No caso do Riocentro, o atentado fracassado precipitou o fim do regime militar. A bomba, convém lembrar, explodiu antes do horário previsto e, em vez de atingir os milhares de trabalhadores que participavam de um ato alusivo ao 1° de Maio, vitimou o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu na hora, e o capitão Wilson Dias Machado, que ficou gravemente ferido.
A ideia era incriminar grupos políticos favoráveis à abertura democrática, mas o tiro saiu pela culatra e respingou em setores do Exército e da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Desta vez, não há evidências de que alguém da cúpula das Forças Armadas esteja envolvido no macabro projeto de explodir um caminhão-tanque na véspera de Natal, mas a polícia concluiu que George não agiu sozinho e que estava entre os militantes que há quase dois meses protestam na frente dos quartel-general do Exército em Brasília.
O que querem esses golpistas? Criar o caos, como queriam os terroristas do Riocentro, não importando quantas vidas se coloque em risco, para impedir a posse do presidente eleito. Dada a quantidade de explosivos e a descoberta de mais dinamite na cidade-satélite do Gama (ainda sem confirmação de que sejam atos conexos), os responsáveis pela segurança da população e das autoridades que estarão na posse terão de redobrar as atenções.
Está cada vez mais claro que o clima em Brasília não recomenda a festa popular planejada pela esposa de Lula, Janja de Silva, para celebrar a posse. Com a presença de líderes estrangeiros e de caravanas que irão a Brasília saindo de diferentes pontos do país, é importante que o risco de sinistro seja tratado como uma possibilidade real. E que os envolvidos sejam enquadrados para desestimular outros aloprados a seguirem pelo mesmo caminho.
Senado restringe visitas em nome da segurança
Se há alguém em Brasília que leva a sério o risco de atentados terroristas às vésperas da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, esta pessoa é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Depois da prisão do empresário que tentou explodir um caminhão-tanque de querosene nas proximidades do Aeroporto de Brasília, o Senado restringiu as visitas à casa. O turismo está vetado pelo menos até domingo, dia da posse.
Enquanto operários se revezam nos preparativos para a posse, a exigência é que todas as pessoas que ingressarem no prédio passem pelos pórticos de raio-X e detectores de metais. Os servidores, normalmente dispensados dessa formalidade, terão de respeitar o procedimento. O Congresso está em recesso, mas um grupo trabalha nesse período preparando a Casa para receber o futuro presidente e os convidados.
A nova regra também proíbe entrada de entregadores e determina que o embarque e desembarque de passageiros ocorra na área externa do Senado. Apenas os 81 senadores, servidores, profissionais terceirizados e estagiários poderão utilizar os serviços das agências bancárias localizadas dentro da Casa