Ao completar um quarto de milênio, Porto Alegre tem sortidas razões para celebrações, mas ainda precisa encontrar seu lugar ao sol do novo mundo para se destacar da constelação de metrópoles com boas ideias e esforços conjugados para gerar renda e desenvolvimento a seus cidadãos no futuro.
É fato que não temos as belezas naturais de Florianópolis, Rio e Salvador ou o planejamento urbano de Belo Horizonte, Goiânia e Brasília. Então, é preciso ir além do pôr-do-sol do Guaíba para atrair atenção em um ou mais atributos únicos.
Uma primeira sugestão: tornar Porto Alegre a capital onde mais se fala inglês no Brasil. A língua franca do planeta é a credencial para que porto-alegrenses virem cidadãos do mundo e, assim, acessem informação de ponta, de tecnologia a saúde, e agora, graças ao home office, possam até disputar empregos no Exterior sem precisar sair de casa. Ganhar em euros ou dólares e gastar em reais se tornou uma possibilidade para quem domina o inglês.
Se, em um empenho coletivo dos setores público e privado, parte considerável dos porto-alegrenses absorver pelo menos noções razoáveis de inglês, abre-se uma porta importante para atração de investimentos externos. Os donos do dinheiro podem até encontrar aqui um clima apropriado para os negócios, mas por vezes desanimam diante da barreira do idioma - uma desvantagem adicional do Brasil em relação a concorrentes emergentes que têm o inglês como primeira ou segunda língua em boa parte da África, na Índia e no Oriente Médio.
Uma reportagem do Jornal Nacional há duas semanas demonstrou que falar bem inglês eleva o salário em até 65%. Ou seja, o inglês é uma forma simples e democrática de se engordar a renda, fora o fato de ser um aprendizado redentor, por permitir contato digital com pessoas, culturas e informações sem a contenção natural das limitações do português.
A segunda sugestão pode ser ainda mais desafiadora: fazer de Porto Alegre um exemplo de cidade limpa, com cidadãos conscientes, tratamento sustentável de resíduos e despoluição de seus arroios. Em 1820, o naturalista francês Auguste de Saint-Hillaire, elogiou Porto Alegre, mas ponderou que, depois do Rio, devia ser a cidade mais suja do Brasil. O esforço para limpar Porto Alegre - e mantê-la em padrões civilizados - poderia começar com mutirões públicos. Na semana passada, por exemplo, a já bem cuidada Holanda mobilizou mais de 40 mil cidadãos no Dia Nacional da Limpeza. Com apoio de empresas, centenas de toneladas de detritos foram recolhidas em parques e ruas.
Mandar a descrição de Saint-Hillaire finalmente para um museu só depende dos porto-alegrenses. Seria uma maneira concreta de homenagear a cidade pelos seus próximos 250 anos. E, claro, happy birthday, Porto Alegre.