Em boa hora, a prefeitura de Porto Alegre começa a tirar do plano das ideias o projeto de reabilitação do centro histórico da Capital. Nenhum projeto poderá ser bem sucedido, porém, se não houver um basta à deterioração do patrimônio público e privado por hordas de pichadores.
Uma das figuras urbanas mais detestadas, o pichador se acha um rebelde mas é apenas um vândalo com o objetivo de galgar prestígio em seu mundinho pela ousadia de promover prejuízos alheios. Com seus ataques, o pichador corrói a autoestima das cidades, drena recursos, afeta a qualidade de vida e contamina a recuperação de espaços públicos, já tão desconsiderados no Brasil.
Pichação é de difícil mas não impossível solução. A primeira barreira de contenção é o inconformismo. A comunidade e todos os poderes precisam resistir à sanha dos transgressores e reverter os ataques ao patrimônio coletivo e privado. A reação começa por fazer cumprir a lei, que enquadra pichação como crime ambiental. O artigo 65 da Lei 9.605/98 prevê pena de três meses a um ano de prisão, agravada se executada em prédio público. Mas ainda são raros os casos em que detenções de pichadores acabam em condenações convertidas em serviços comunitários para – adivinhe – limpar a sujeira que produziram.
Embora limitada e parcial, outra solução é estimular e organizar a arte urbana, que vem a ser o oposto da pichação. Com apoio de prefeituras, artistas têm transformado vastas porções de paredes, muros e empenas de prédios em atrações turísticas de metrópoles como Bogotá e São Paulo. Em Porto Alegre, o horrendo Muro da Mauá, por exemplo, já foi um admirável mural, hoje desgastado, que desestimulou por muitos anos o assalto dos vândalos de spray.
Uma outra ideia: recorrer à natureza sempre que possível. Muitos proprietários de muros e fachadas têm plantado trepadeiras, que se transformam em cortinas verdes imunes à pichação – além de criarem um visual que ameniza a dureza do concreto e do asfalto. É barato, criativo e eficaz, além de dispensar pinturas rotineiras. Onde as barreiras verdes não são factíveis, tintas antipoluição ajudam mas não resolvem, porque o objetivo do vândalo é voltar a atacar para provocar e testar os limites da sociedade.
Seria ideal se a consciência gestada na família e na escola conduzisse à formação de 100% de cidadãos conscientes e responsáveis. Como a hipótese é uma quimera, impor um fim às pichações no Centro teria ainda o condão de irradiar a cultura da preservação e valorização da arquitetura e dos espaços coletivo para muito além do tão conspurcado coração urbano do Rio Grande do Sul.