A Muralha da China desabou. Os invasores são jogadores bárbaros, os melhores do mundo, que a Olimpíada atraiu para jogar sob o céu do Cruzeiro do Sul, em uma extraordinária amostra de por que a NBA é o que é. O desfalque do mega-astro LeBron James pode ter causado um impacto emocional em quem esperava ver a escalação integral do Dream Team, mas a arte dos americanos é tamanha que a ausência passa batida. Quem tem Kevin Durant e sua mira justiceira nos três pontos pode se dar ao luxo de sonegar LeBron ao mundo.
Leia mais
NBA terá 46 jogadores na Olimpíada do Rio de Janeiro
Estados Unidos anuncia convocação do basquete para o Rio 2016
Estados Unidos passeiam sobre a China em jogo de estreia dos favoritos no basquete
Os EUA jogam em outra liga de outro planeta, e os terráqueos aqui se contentam em vê-los boquiabertos como amestram a bola a seu bel-prazer. É verdade que a desvantagem já parte do climão de NBA com que a organização olímpica embala a partida. Desde a convocação do placar para um "Make Noise!" até o show do intervalo, passando pela narração, tudo cheira a NBA – se o espetáculo deu certo lá, por que não exportá-lo? É como se os americanos estivessem jogando em casa, com exceção da torcida. A certa altura, o público brasileiro começou a gritar "China, China", em um apoio misericordioso aos povos oprimidos pela máquina ianque de fazer cestas.
O time chinês, porém, não merece qualquer pena. Pela rivalidade com os EUA que extrapola o campo esportivo, a meta da China era não ser humilhada pela potência adversária. Ao fim do primeiro quarto, a China precisava multiplicar sua contagem por três para chegar aos 30 pontos dos EUA. A diferença se ensaiava no aquecimento. Os chineses praticam em círculos concêntricos com ritmo e disciplina, enquanto os americanos são aquela coisa largadona, na qual eles mais brincam com a bola como extensão das suas mãozaronas. Mesmo com um placar alargado no final, não houve fiasco. A China é um time de respeito, capaz de jogadas de pura poesia, como as de Yanyuhang Ding que parece flanar como seda ao vento para depositar a bola delicadamente no aro. Só deu azar de encarar os EUA na estreia. Os bicampeões olímpicos arrasaram a muralha jogando basquete como um dia o Brasil ja enfeitiçou o mundo jogando futebol.
