Faz algum tempo, escrevi uma coluna com o título – acho eu – de “O elefantinho gentil”. (Sim, preguiça de procurar.)
Uma camiseta com um elefante, flores na tromba, e o dizer, mais ou menos: “Se você não tem nada a fazer, seja gentil”. Be kind. Tenho pensado muito nisso nestes dias de tanta grosseria, insulto, ódio racista ou de qualquer tipo. Até grosserias em família, muito tristes porque um lar com ambiente hostil, ou violento ou mesmo frio, possivelmente deixará cicatrizes fundas em filhos e parceiros, criando hábitos de violência ou frieza que irão prejudicar os relacionamentos futuros.
Famílias em que um tapa ou um insulto (burro, grosso, maricas, machona, sujo, relaxada, preguiçosa... e outros piores) são coisa normal são pequenos campos de batalha onde quase sempre vence o mais forte, pai, mãe, irmão mais velho, ou o mais resistente, que pode ser uma criança daquelas do tipo “pode bater, que eu não choro”. E as lágrimas, os soluços retidos, vão se empilhando na alma até, um dia, talvez num futuro distante, começarem a irromper como uma represa de sujeira e sofrimento.
Mas não é só a violência física ou verbal que implora por mais bondade e bom senso: a frieza e a indiferença criam barreiras invisíveis, torres de isolamento e solidão, desamparo e insegurança – ou desconfiança de tudo e todos, criando jovens revoltados e deprimidos... talvez suicidas por desesperança.
Estamos mergulhados em transcendência, eu sempre digo e escrevo, com beleza, arte, afetos, natureza, espiritualidade e momentos de contentamento interior, mas também podemos estar isolados entre muros feios e agressivos que nos esmagam com ferocidade gelada.
Então, mais uma vez: a qualquer hora, e sempre, BE KIND.
E isso, se formos muito jovens, ou desinformados, ou sem arrimo e apoio, pode nos condenar a uma existência inferior, sem noção da própria dignidade e direitos. Como uma criança ou jovenzinho sem a certeza dos afetos próximos pode escapar, pode se salvar? Pois eu acredito que gestos de delicadeza, em casa, na escola, na turma, no trabalho, sejam pequenas boias de socorro que ajudam a ficar à tona d’água sem se afogar.
Não pode ser muito difícil: pai, mãe, irmãos, alguma vez trocando palavras de elogio e estímulo, um abraço inesperado, um afago no cabelo, um tapinha no ombro, alguma demonstração de que aquela pessoa é importante. Pois todos queremos ser importantes no amor de alguém, e isso deveria começar em casa.
Também na escola, no bar, na turma, no trabalho, como escrevi acima, ser gentil pode iluminar uma hora na vida de alguém, um dia, ou até modificar uma vida. Porque de repente havemos de ver, sentir, que não somos lixo, não somos ignorados e desprezados ou pisoteados, mas somos humanos, somos almas, somos destinos, somos potencialidades mil que às vezes só esperam esse momento de claridade para se encontrar, e se construir.
Então, mais uma vez: a qualquer hora, e sempre, BE KIND.