Reza a lenda que uma vez perguntaram ao Albert Einstein uma explicação direta e simples da relatividade, e que ele teria pensado um pouco — vamos colocá-lo, imaginariamente, com aqueles cabelos espantados, sorriso ameno, bigode escondendo os lábios como ocorria com o Paixão Côrtes, ele elevando os olhos ao céu para encontrar inspiração — e respondido: "Imagina um minuto ao lado da pessoa amada; e agora imagina um minuto com a mão na chapa quente do fogão".
Não vou ao Google para aferir a verdade da história, que é tão boa que deveria ter acontecido assim mesmo, para bem das boas histórias da humanidade. O que interessa é a força expressiva da comparação.
Depois dos 40 anos, os anos passam mais rapidamente. A gente termina de celebrar o ano-novo já está na Páscoa, a gente aniversaria e os filhos também, passa o inverno, nascem de novo as flores e eis o final do ano, que aqui em Porto Alegre começa na Feira do Livro, não sei se todos se deram conta disso. E já é Natal e acabou. E a gente encontra sem querer um velho amigo, ou um desafeto recente, e já paga IPTU e IPVA de novo, e já pensa de novo em baixar as roupas de frio, que este ano talvez venha forte.
Para gente madura e velha, um ano é assim, uma experiência veloz e imparável. Por que tão rápido? E as crianças, por que pararam de ser crianças?
Esse ano infinito que acabamos de celebrar, um ano dessa pandemia que se acrescenta de um governo federal infernal e infenso à razão, para nós talvez tenha passado com a lentidão que gostaríamos de ver em cada um e em todos os anos do calendário. Uma lentidão amarga, agora.
Mas o que dói mesmo é pensar nas crianças em idade escolar, no tanto que elas estão sofrendo sem nem saber. Tem a chatice das aulas online, a escassez de relacionamentos. E tem tudo que não foi possível viver, na sala de aula, no pátio, na entrada e na saída, naquele alvoroço diário que tem a densidade da vida. Um ano. Que tristeza.