A estreia no metiê ocorreu em 1969, um ano auspicioso para colorados como ele – inauguração do Beira-Rio, primeiro ano do octacampeonato estadual de futebol, antevéspera do tricampeonato nacional completado 10 anos depois. Isso quer dizer que se completaram 50 anos faz pouco.
Mas o livro alusivo à efeméride saiu agora, em plena pandemia: Verissimo Antológico – Meio Século de Crônicas, ou Coisa Parecida (editora Objetiva). São umas 700 páginas dentro de capas duras, fazendo por merecer o conteúdo e o lugar que o livro vai ocupar na estante ou na cabeceira do leitor.
São crônicas (ou a tal coisa parecida) que cobrem esse tanto da história do país, duas gerações inteiras, com diálogos, descrições, erudição, cosmopolitismo, visão democrática, abertura mental, atenção delicada para o detalhe miúdo da vida, atenção crítica para mazelas estruturais do país e do Ocidente, cenas ficcionais, sempre numa linguagem de grande eficiência comunicativa e mais que tudo, aliás, antes de tudo, um ponto de vista que dá pra qualificar como inteligente, sutil, inventivo, irônico, numa palavra, sagaz.
Um exemplo: na página 512 lemos A Carta do Fuás. Em linguagem que imita a de Pero Vaz de Caminha, na famosa carta em que conta do achamento da terra do futuro Brasil, Verissimo dá a palavra para um hipotético Fuás Roupinho, escrivão que estaria no barco realmente extraviado da frota de Cabral.
Armação simples, mas de alcance profundo, o autor inventou uma situação narrativa que lhe permite ir mediando entre aquele lance histórico, cinco séculos passados, e a posição desviante do Fuás, cá no presente da leitura. Anacronismo programático, que dá todas as condições do humor e da ironia, da crítica e da inteligência. Um banquete, que vemos ser servido ao vivo.