Como será o mundo depois dos atuais governos federais no Brasil e nos EUA? Em algum momento eles vão mudar, eleições vão trocar o mandante, o planeta vai continuar a girar. E como será a televisão aberta brasileira depois de Silvio Santos?
Esta última pergunta e a utopia nela embutida parecem menos relevantes do que a primeira indagação?
Vou parar de perguntar para indicar uma leitura proveitosa: Topa Tudo por Dinheiro – As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos, de Maurício Stycer (editora Todavia). É uma biografia da figura pública, não do homem em si, desenvolvida na forma de uma extensa reportagem de 250 páginas, que a gente lê com uma fluência invejável.
Trata-se, o biografado, de um mitômano de poucos escrúpulos, que agrada a qualquer governo mas gosta especialmente dos governantes de viés populista de direita, como aliás é o caso dele mesmo, como se pode ver nas cenas degradantes que veicula a cada semana — coisas que não é possível presenciar sem uma pequena dor no coração, caso o coração ainda não tenha virado pedra ainda.
As humilhações a que ele submete pobres e iludidos, especialmente mulheres, só encontram paralelo na exploração da boa-fé dos humildes nesses templos milagreiros de araque, também dinheiristas e mitômanos. Como deixamos isso acontecer e continuar acontecendo, é o que me pergunto.
Mas atenção: o livro tem um tom sereno, muito distinto dessa minha indignação. Ele trata de apresentar fatos documentados, a partir de reportagens que percorrem nada menos que 56 anos, entre 1952 e 2018, em revistas, jornais e assemelhados, dos áulicos e descarados aos críticos e interpretativos. Não tem nenhuma reverência pela figura do empresário e animador, como convém, mas não o agride à toa. No conjunto, o livro faz sonhar sobre aquelas perguntas lá do começo.