Em que o senhor gasta energia? E a senhora? Não estamos falando da energia que vem na conta a cada mês, que é essencial e falsamente quantificável — quem é capaz de dar números reais para o lugar que os aparelhos elétricos e eletrônicos ocupam na nossa vida? Quanto vale ter água quente no banho ou imagem clara na tela do celular? Como em tantas outras dimensões da vida, a gente só sabe responder a isso, mesmo, na ausência de água quente ou falha da imagem na tela do celular.
O ponto aqui é outra energia, mais inquantificável ainda: energia vital, que se manifesta em ânimo para fazer coisas, tomar iniciativa, promover ações. Esse é o ponto.
Quanto se está deprimido, falta essa energia, exatamente ela. Não se vê sentido em sair da cama, em tomar banho, em trabalhar, em fazer os relacionamentos andarem pra frente. Quando se está bem, é essa energia que move tudo, da alma ao corpo, invisível, atuante. Vigor, gosto, vontade, tesão, tensão vital: isso.
Esses dias li um comentário, desses que atropelam nossa vista a cada tanto, numa rede social. Nem guardei o nome do autor, o que é uma pena mas talvez uma fatalidade, dada a velocidade da vida. Descuido na hora, impossibilidade agora.
(Eu tentei, eu tentei.)
O comentário lembrava que a gente (“a gente” envolve, aqui, os descontentes com o estilo, as intenções e/ou os gestos concretos do atual governo federal) tem gastado muita, demasiada energia em reagir, apenas em reagir. O cara entra em cena, a gente explode – Mas não é possível! Mas de onde é que ele tirou essa? Onde é que isso vai parar? Quando isso vai terminar?
Explode gastando energia. Libido, agora lembrei: o autor falava em libido, não em energia. Explode desperdiçando uma energia que não volta mais. Só a gente se abastecendo de novo de alguma fonte, com algo que nos faça bem. Uma leitura, um carinho, uma audição, uma boa notícia científica, uma esperança, o que mais?
Mas cadê o ânimo?