Não passa dia sem que algum texto analise e dê nomes adequados para o horror cotidiano que estamos vivendo. Semana passada, Jânio de Freitas escreveu uma coluna inteira, na Folha de S.Paulo, mostrando que nosso presidente foi desde sempre um partidário da morte – apoia tortura, celebra torturador, quer pena de morte, aplaude milícia; e agora, no poder, combate tudo que aponta para a vida – educação de qualidade, saúde pública, meio ambiente saudável, invenção de tecnologias novas mediante pesquisa, sobrevida digna dos pobres.
Outro dia, no mesmo jornal, Celso Rocha de Barros mostrou o empenho destrutivo do ocupante do Planalto. “Se não o deixarem destruir a democracia, o Jair não tem nada para fazer”, porque não tem projeto de construção.
Ontem, na mesma Folha, Vinícius Mota, depois de mostrar as sucessivas perdas de apoio do presidente, percebe que a filosofia bolsonara está reduzida ao seu núcleo inicial: paranoia, despreparo e fanatismo.
Também ontem, aqui na Zero, Cláudia Laitano chamou a atenção para a vulgaridade do linguajar do mesmo ator público, que com suas grosserias e piadas inconvenientes lança gases tóxicos no nosso cotidiano, rebaixando o nível da conversa possível.
O quadro é desanimador, sem dúvida. Os motivos para jogar a toalha são inúmeros e não param de se renovar. Qual será o horror de hoje?
Sou professor, como alguns milhares de colegas. Minha vida depende de acreditar no futuro, na perfectibilidade das pessoas, na capacidade de superar problemas e inventar soluções. Depende, em suma, de esperança: não faz sentido entrar em uma sala de aula sem essa chama interior. Os professores transmitem a vida, em um ritmo lento e imperceptível para os apressados, mas certo e decisivo para a história dos indivíduos e da sociedade.
Meu argumento hoje em dia, quando vejo olhares tristes e mesmo amedrontados diante de mim, na arena pública que é a sala de aula, tem sido uma singela declaração de resistência: está tudo complicado e com cara de demorar para melhorar – mas está tudo vivo. Precisamos prestar atenção, estudar, analisar, tentar entender e dar nome para o que está acontecendo. Daqui a pouco tudo isso também será história, e nós, que aqui estamos, vamos contar para quem vem depois. Diz aí.