Não serei eu profissionalmente abalizado para entender o que parece ser uma imensa enrolação, essa do chamado Cais Mauá. Mas parece ser uma daquelas coisas de que meu finado amigo Sérgio Jacaré Metz diria: “A coisa é feia e vem se debruçando”.
Como já disse alguém, a cidade começou a perder quando botaram esse selo, “Cais Mauá”, no que até então a cidade chamava de Cais do Porto. O grande Sérgio da Costa Franco, sempre atento ao pulso da cidade, já havia chamado a atenção para o fato de que a publicidade passou a chamar de “orla” aquilo que centenas de anos e milhões de pessoas se habituaram a chamar de “beira”. As palavras também entram nessa guerra pelo sentido e pelo futuro da cidade.
O certo é que há muitos anos e vários governos atrás houve a vitória de um grupo para explorar o, vá lá, Cais Mauá. O grupo já se desorganizou e rearranjou algumas vezes, pedalou promessas, refez planos. Lembro de desenhos publicitários sensacionais - um, assinado por Jaime Lerner, prometia esconder o Muro da Mauá sob uma cascata artificial. Para seguir a imagem de Nelson Rodrigues, concebida para outra cidade maltratada, o Rio de Janeiro, talvez fossem ali localizados até filhotes de jacaré, para dar maior dramaticidade ao conjunto.
Outro desenho prometia algo ainda mais espetacular: a própria avenida Mauá, no trecho extremo perto da Usina, seria coberta, e os cidadãos como o senhor e eu poderíamos cruzar da rua da Praia, ali na praça Brigadeiro Sampaio (ex-Largo da Forca), até a beira do Guaíba, a pé enxuto.
Até que, esses dias, 7 de fevereiro, aqui mesmo em GaúchaZH, veio a público a promessa nova: um estacionamento para 600 carros. Seria um presente para a cidade, em seu aniversário este ano. Depois desse feito impressionante é que veríamos o resto, que incluía um misterioso “beach club”. Clube de praia, mas em inglês, o que sempre diverte mais os otários, quer dizer, nós todos que não somos sócios da empresa essa.
Teríamos então o quê: cancha de bocha? Um ou dois chuveiros? Aluguel de cadeiras de praia? Uma quadra de vôlei?
Mas o certo é que ali mais uns 600 carros estarão tomando sol.
PS: em compensação, a grande figura humana e artística que é o Mathias Pinto, violonista e professor de choro, deu a volta por cima - sua sensacional Oficina de Choro se reinstalou no Instituto Ling e abre inscrições agora, dia 15 de fevereiro. São aulas gratuitas de música e práticas musical. E vai ser criada a Orquestra de Choro de Porto Alegre! Mais informações, oficinadechoro.com.br.