Um belo romance, de temperamento policial: Tudo Pode ser Roubado (editora Todavia). A autora se chama Giovana Madalosso, é curitibana, vive em São Paulo, foi redatora publicitária por muito tempo e agora produz roteiros para a tevê. Só de ler esses traços já vem à lembrança a Claudia Tajes, também redatora de publicidade por tempos e que produz agora roteiros para tevê.
Mas não é só esse conjunto de dados biográficos que une as duas. Na estrutura do romance da Giovana há algo de muito familiar com os romances da Claudia: no contexto de um certo enredo, a personagem protagonista (ei, também isso elas têm em comum, mulheres protagonistas e narradoras!) tem a possibilidade de conhecer uma série de figuras, vivendo peripécias marcantes, tudo isso enquanto o centro da trama permanece como que por cima de tudo.
Explico melhor: em Tudo Pode ser Roubado, a narradora é uma garçonete que, para ganhar mais e também para se divertir, faz programas para furtar. Neste quesito, aliás, o livro é muito eficiente — sem desmerecer a Giovana em nada, o ritmo do relato e a força dos diálogos lembra claramente o Rubem Fonseca, por sinal influência também para a Claudia.
Essa garçonete não tem ilusões do tipo vencer na cidade grande; o que ela quer é comprar um apê bacana. Sem planos para o futuro. Até que ela é procurada por um tipo estranhíssimo, outra figura das sombras da São Paulo de nossos dias. Ele tem uma encomenda: quer que ela se aproxime de um determinado professor (ela vai frequentar as aulas dele, vai jogar seu charme, tudo num clima de cinismo e relativa elegância, uma excelente crônica de costumes) para roubar dele um exemplar da primeira edição de O Guarani, o clássico de José de Alencar. Quem quer o livro é um colecionador, outra figura marcante.
Lembrei da Cláudia porque, como nos romances dela, Tudo Pode ser Roubado tem, dentro dessa trama — que se resolve de modo muito bom, embora os 20% finais percam um pouco de força —, espaço para relatos de casos da protagonista, casos que poderiam ser mais ou menos em número, sem estragar ou melhorar o conjunto. Talvez seja influência da lógica narrativa das séries, essa modalidade nova de telenovela. Sei eu. Mas a Claudia e a Giovana merecem bem a leitura.