Poucos escritores tiveram em vida o mesmo reconhecimento que Rubem Fonseca. O autor completa 90 anos nesta segunda-feira na condição de um sucesso de público e, ao mesmo tempo, considerado por seus pares como alguém que transformou a literatura brasileira do século 20.
Com tramas que expõem desde o universo do crime até o mundo das altas esferas do poder político, as dezenas de volumes de contos e romances do autor alcançaram lugar de destaque nas livrarias, muitos deles figurando nas listas de mais vendidos. Além das estantes, alguns títulos alcançaram as telas, como Agosto (1990), que se tornou série na Rede Globo em 1993, e Bufo & Spallanzani (1986), que estreou nos cinemas em 2001.
Mais do que conquistar leitores e servir de base para adaptações cinematográficas, o trabalho de Rubem Fonseca é considerado um marco para uma série de outros ficcionistas.
- Até os anos 1960, nossa cultura era essencialmente regional. É a partir de então que se nota acentuadamente o surgimento de uma cultura urbana tal como a conhecemos hoje: metrópoles com suas patologias típicas. Rubem foi o escritor que transpôs essa nova realidade para a literatura - diz a escritora paulista Patrícia Melo, 52 anos, autora do best-seller policial O Matador (1995).
Para o gaúcho Tailor Diniz, 59 anos, autor de Crime na Feira do Livro (2010), Rubem Fonseca mudou a maneira como o gênero policial era encarado na literatura feita no Brasil:
- Havia um preconceito muito grande no meio intelectual sobre os livros policiais. Respeitado pela crítica, Rubem deu status ao gênero.
Mineiro, mas criado no Rio, o autor é avesso a entrevistas, o que já lhe rendeu a fama de recluso. Os amigos, no entanto, não o descrevem como alguém ensimesmado.
- É um homem amável, com um humor fino e bom conversador. Qualquer pessoa próxima dirá o mesmo dele - elogia Patrícia Melo.
Aos 90 anos, Rubem segue escrevendo. Neste ano, lançou o volume de contos Histórias Curtas e segue planejando novas narrativas, como expõe a editora Maria Jeronimo, da Nova Fronteira:
- Ele é muito participativo e atuante. Tem uma capacidade produtiva invejável.
Mesmo sem colher os elogios que títulos de décadas anteriores recebiam da crítica, os novos livros do autor não carecem de leitores ávidos.
- Hoje, quando chega algo novo dele, sinto falta da mistura sofisticada de horrores que está em Feliz Ano Novo, ou, em outros casos, de relações mais complexas e profundas. Mas um Rubem Fonseca é um Rubem Fonseca. Vale a viagem sempre - avalia a autora gaúcha Claudia Tajes, 51 anos.
Escritores falam sobre seus livros preferidos de Rubem Fonseca:
"O Cobrador (1979) e Feliz Ano Novo (1975) são proféticos no que diz respeito, por exemplo, à nossa violência. Quando eles foram publicados, as pessoas acreditavam que aquele brutalismo era inverossímil, impossível. Hoje vemos que ele é a nossa realidade." Patrícia Melo, autora de O Matador (1995) e outros romances policiais
"Feliz Ano Novo era o novo, o nojo, a desesperança, tudo junto para tirar o sono do leitor. Foi Rubem Fonseca quem revelou, ao menos para mim, que é possível escrever sobre tudo. Até sobre temas de mau gosto - as manifestações do corpo, por exemplo -, que nas mãos certas dele viraram grandes contos." Claudia Tajes, autora de Por Isso Eu Sou Vingativa (2011) e Sangue Quente (2013)
"Não sei se é o meu preferido, mas o livro dele que mais consulto é E do Meio do Mundo Prostituto Só Amores Guardei ao meu Charuto (1997). Além de ter todos os ingredientes necessários para uma boa trama, é um verdadeiro tratado sobre a arte da criação literária." Tailor Diniz, autor de Crime na Feira do Livro (2010) e Em Linha Reta (2014)