Foi uma quinta-feira (16) de derrotas para o jornalismo esportivo e para quem é fã do futebol, aquele do rádio, da TV. Em questão de horas, nos despedimos de três companheiros. Washington Rodrigues, o Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz eram mais do que comunicadores. Eram amigos de longa data de todos nós que consumimos futebol. Daqueles de irem nas nossas casas, de estarem, mesmo de maneira remota, à mesa do almoço ou do jantar da família. Esperaram a rodada de quarta-feira, como bons profissionais que eram, para nos deixar e partir para um outro plano.
Nunca tive relação além daquela de fã com os três. O Apolinho, por ser um comunicador mais restrito ao Rio, o ouvia pela rádio Tupi. Ou quando estava em alguma cobertura por lá. Lembro de uma, em 2011, o Ronaldinho jogava no Flamengo. Houve um episódio em que ele estava no centro das atenções.
O Rio queria ouvir o que o Apolinho, flamenguista, diria sobre aquilo. Quando bateu 17h, foi como se a cidade estivesse toda com o rádio ligado. Para onde a gente olhava, na frente do Ninho do Urubu, havia um bolinho de gente em volta de um rádio. O som da voz do Apolinho ecoava. Confesso que poucas vezes vi algo parecido.
O Antero, conversei com ele por telefone uma vez. Liguei para a redação do Estadão e caí no ramal dele. Me apresentei e pedi para falar com o Cosme Rímoli. O Antero foi de uma gentileza e de um carinho comigo que parecia um velho conhecido.
Quando passei a vê-lo com mais frequência na ESPN Brasil, tinha certeza de que o boa praça da frente da tela era a versão original do Antero. Em um meio movido pela vaidade, simplicidade e autenticidade são artigos raríssimos.
No caso do Silvio Luiz, quem curte futebol, de alguma maneira foi influenciado por ele. A minha geração, já na casa dos 50, cresceu vendo suas narrações descontraídas na Band. O Silvio fazia nos anos o que os narradores fazem hoje na TV. Seus bordões transcenderam o universo do futebol. Quem nunca soltou um "pelo amor dos meus filhinhos"? Ou um "pelas barbas do profeta"?
Quando tinha oito ou nove anos, lá em 2008, o meu sobrinho, o Yuri, narrava seus jogos no Mega Drive imitando o Silvio Luiz. Eis que esses tempos estava jogando um Fifa no X-box com meu filho, Tiago, de 10 anos, quando ele soltou um "pelas barbas do profeta". Abri um sorriso largo, de satisfação. Porque ele estava replicando algo que eu fazia lá nos anos 1980 jogando botão.
Graças ao Silvio, que de tão gigante faz seu estilo e seus bordões passarem de geração em geração. O jornalismo perdeu três grandes profissionais. Nós ganhamos três lendas.