O Inter usou sua camisa para mandar ao mundo uma mensagem de como está a alma e uma boa parte do Rio Grande do Sul. As manchas de barro no uniforme usado contra o Belgrano, na volta do clube aos gramados, resumiram o sentimento dos gaúchos, numa potente ação do marketing do clube. As 23 camisas usadas pelos jogadores na noite de terça-feira (28) serão encaminhadas para um leilão, cuja renda será revertida às vítimas da enchente. Todas terão, além das marcas de barro, as assinaturas dos jogadores.
O maior desafio do marketing do Inter até a entrada em campo foi construir essa ativação sem que vazasse ao público e perdesse parte do impacto. Tudo começou há cerca de 10 dias. A HOC, agência que atende ao Colorado, apresentou a ideia. Imediatamente, o clube aprovou. Mas era preciso o passo dois, aprovação da Adidas. A fornecedora demorou dois segundos para dar seu ok ao ver o protótipo numa videoconferência.
O próximo desafio do departamento de marketing era, além de lidar com a escassez de material, já que boa parte perdido na enchente, e encontrar uma gráfica que fizesse a impressão sem que as imagens vazassem. Por indicação da Adidas, foi encontrada uma em São Paulo. No sábado (25), foram feitos testes em uma camisa matriz. Tudo aprovado, iniciou-se a impressão dos efeitos em 46 jogos de uniforme (camisa, calção e meias). Cada uma das peças recebeu impressão individual. Não há uma peça parecida com a outra.
Com os uniformes customizados, o Inter passou a trabalhar com as questões legais do jogo. Era preciso pedir autorização à Conmebol. Por telefone, Alessandro Barcellos recebeu o sinal verde de Alejandro Domínguez. A operação teve apoio do delegado do jogo em Barueri. Ele permitiu que o clube, para as imagens pré-jogo no vestiário, pendurasse as camisas sem as manchas.
Quando as câmeras saíram, os roupeiros rapidamente fizeram a troca. Os jogadores foram informados da ação quando chegaram ao vestiário. A reação deles, segundo um dos dirigentes que estavam próximos, foi de entusiasmo. "Eles compraram, estão engajados, só ver quantos foram ajudar, alguns até entrando na água", contou esse mesmo dirigente. O ritual normal dos atletas é aquecer com meias e calções de jogo. Dessa vez, aqueceram com as peças brancas e se trocaram de novo no vestiário.
Além dos jogadores, a equipe de comunicação também só soube pouco antes da partida, quando iniciaram as postagens relacionadas ao jogo, usando a mesma marca de barro. Um spoiller do que se veria na entrada do time em campo. Em sua volta ao futebol, depois de 31 dias, o Inter levou as marcas de uma tragédia que afeta a todos os gaúchos. Um golaço de empatia. E aquela surrada máxima: nunca é só futebol. Nem deve ser.