O Brasil tem uma coleção de problemas. Todos solucionáveis, é bom frisar. Mas o Brasil tem um tesouro raro que é o traço de generosidade que marca seu povo. A mão estendida ao Rio Grande do Sul agora forma uma corrente comovente de solidariedade. Um motor que, aliado ao comando eficiente do Estado, vai nos tirar desse drama em que fomos metidos. O jogo deste domingo (26), no Maracanã, é a prova desse DNA de empatia que temos.
Essa foi uma ação que ganhou eco pela força da mídia e dos astros envolvidos. Outras, mais silenciosas, alimentam essa corrente. Um desses elos será embarcado nos próximos dias aqui no porto de Barcelona.
Começou com a iniciativa do gaúcho de Novo Hamburgo Marcelo Klein. Ele usou as redes sociais da sua loja de calçados (gaúchos) que tem perto do mercado de Sant Antoni, aqui na cidade, para avisar que recolheria donativos. A notícia correu nos grupos de WhatsApp, e a La Mona Calzados virou ponto de peregrinação. O volume foi tamanho que o depósito da loja lotou. No fim de semana retrasado, voluntários foram ajudar a separar os donativos.
As doações não pararam. Douglas, brasileiro de Terrassa, na região metropolitana, soube da ação e juntou-se para agrupar o que havia arrecadado por lá. A Juliana Bonacina, canoense radicada em Barcelona, trouxe um lote de roupas, todas novas, com etiquetas ainda.
O Dani Júnior, gaúcho de Cachoerinha e amigo que fiz aqui, soube através da porto-alegrense Ale Hirtenkauf, no grupo de Whats do consulado do Grêmio, que a ação estava em curso. Ofereceu seu apartamento para receber algumas doações. Duas voluntárias, a Luciana Hoffmann e a Marta Franck, angariaram em duas escolas que frequentam. A Ale fez o mesmo na La Salle Campus Barcelona.
Entre quarta (22) e sábado (25), o Dani e a família mal conseguiam se mover dentro de casa tamanha era a quantidade de sacolas. No final de semana, me apresentei para ajudar a separação das peças. Havia outras seis pessoas na tarefa. Ninguém se conhecia até aquele momento. Saíram de lá todos amigos.
A Ale, doutoranda que interrompeu os estudos nestes dias para ajudar, abasteceu uma planilha de Excel para discriminar cada uma das peças, como exigem os protocolos marítimos, e coordenou triagens e voluntários. A Vanessa, outra voluntária, contratou o caminhão com o Fernando, namorado dela das Canárias, para levar todas as mais de 300 caixas, neste domingo, até um depósito conseguido pelo Douglas em Terrassa.
O Marcelo, nos próximos dias, recolherá e levará tudo para o porto. A agência logística catalã Modaltrade que o atende se dispôs a fazer os trâmites sem custos. O valor do transporte marítimo até o Brasil será bancado por uma rifa de um escritório jurídico de uma brasileira, o CB Asesoría, especializado em obtenção de cidadania espanhola. Assim, daqui de Barcelona, sairá mais do que um contêiner de doações. Embarcará a essência do que somos. Mesmo longe, do outro lado do mundo, seguimos brasileiros, com um dos traços que nos caracterizam, o da generosidade.