O Inter começa a fechar o pior ano da sua vida e a cristalizar um marco na sua história. As condenações de Vitório Piffero, a 10 anos e seis meses de prisão, e Pedro Affatato, a 19 anos e oito meses, estão na origem do momento que vive o clube hoje. O associado passou a se inteirar mais da vida do clube, a tentar entender mais seus bastidores políticos e a debater, como na última eleição, projetos em vez de "O campeão voltou". Os movimentos políticos passaram a tratar de temas vinculados à gestão responsável e a debater novos processos internos que blindem o clube de gestões danosas como foi a de 2015/2016.
O que acontece no Inter serve de modelo ao Brasil inteiro do modelo associativo. O Cruzeiro, logo depois, passou pelo mesmo processo. A diferença é que a investigação, em vez de parar no Ministério Público, usou outro caminho, o da Polícia Civil, que concluiu não ter havido crime na negociação de jogadores e, assim, não os indiciou. No caso do Inter, a investigação foi na raiz de todas as irregularidades apontadas pelo Conselho Deliberativo em um relatório elaborado por comissão especial lá em 2017.
Aqui, é preciso enaltecer alguns atores desse episódio. Primeiro, o Conselho Fiscal, por reprovar as contas da gestão Piffero, em um placar apertado de 3 a 2. Depois, o então presidente Marcelo Medeiros, por quebrar uma cultura instituída em clubes associativos e colocar para cima do tapete todas as irregularidades e não escondê-la embaixo, como estamos acostumados a ver. Por fim, ao Conselho Deliberativo do Inter. Nos últimos 10 anos, o colegiado vem passando por renovações constantes e se tornando cada vez mais plural. O que tira do clube aquela ideia de que ele pertence a um grupo específico ou a representantes de uma mesma camada da sociedade.
Haverá recursos dos dois dirigentes. Esse processo referente aos desvios de R$ 13 milhões em obras no Beira-Rio ainda levará tempo até receber seu ponto final. Há ainda o julgamento das irregularidades no futebol, cujo processo segue em andamento. Mesmo que ainda estejamos no meio do caminho, podem ficar certos. O Inter de hoje, que recebe Borré e tem nomes como Enner Valencia a empolgar sua torcida, nasceu naquela noite em que resolveu cortar na própria carne e denunciar alguns dos seus pares.